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O que esperar da Alece pós-Evandro
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

O que esperar da Alece pós-Evandro

O sucesso de Evandro nas urnas neste ano não existiria sem sua passagem pela chefia da Alece, que se converteu num trampolim de candidatos ao Executivo municipal
ROMEU Aldigueri, deputado estadual. (Foto: Fabio Lima)
Foto: Fabio Lima ROMEU Aldigueri, deputado estadual.

A Assembleia Legislativa do Ceará (Alece) elege hoje seu novo presidente, que ocupará a função que foi - ainda é - de Evandro Leitão (PT), eleito por sua vez para a Prefeitura de Fortaleza em 2024 (o terceiro chefe do Legislativo em sequência a comandar o Paço). Embora pareça casual, tudo se conecta de modo curioso. O sucesso de Evandro nas urnas neste ano não existiria sem sua passagem pela chefia da Alece, que se converteu num trampolim de candidatos ao Executivo municipal (antes dele foram Roberto Cláudio e José Sarto, numa época em que eram "tutti buona gente"). Para o Legislativo, contudo, é bom ou ruim que as coisas se deem dessa maneira, ou seja, que a cadeira de presidente seja uma incubadora de postulantes apresentados como extensão da força do governador de turno? Institucionalmente, é fácil responder que não. Politicamente, convém indagar se existe saída para tal situação, que se reflete na correlação de forças Ceará afora, irradiando-se desde o Parlamento até as prefeituras. O resultado é um governismo pantagruélico e uma oposição débil a quem não resta alternativa senão participar do "jogo do contente". Daí se chega ao dia de hoje: rito sem surpresa, a sucessão na presidência é espécie de "cabra-cega" que se joga com a venda sutilmente levantada, enxergando-se tudo: os vencedores (naturalmente a fração vitoriosa em 2022 e também em 2024), os remediados (a oposição adesista que aceita os termos da partida, desde que possa ficar com um naco) e os perdedores (os opositores cuja posição os impede de fazer um gesto de concessão, por acúmulo de desgaste).

Os anos de Romeu

Escolhido como nome de consenso após a operação kamikaze que deu no petista Fernando Santana (depois sacrificado no altar do "cidismo"), Romeu Aldigueri (no PDT, mas em vias de se tornar pessebista) entra na linha sucessória do Estado. Se Elmano de Freitas (PT) adoece ou viaja e Jade Romero (MDB) se vê igualmente impedida de assumir o comando do barco, o timão passa às mãos do deputado, hoje líder do Abolição. Como o seu mandato presidencial se estende para o biênio 25/26, é ele que estará conduzindo a Alece quando o gestor estadual entrar no modo reeleição, enfrentando uma oposição vitaminada em Fortaleza, mas muito mal das pernas no restante do estado. Até lá, porém, muita água há de rolar, dentro e fora da aliança. De cara, Romeu terá de lidar com eventual fissura que tenha restado da saia-justa que produziu sua candidatura: afinal, Cid está plenamente satisfeito com a troca que levou o pedetista à presidência?

As peças na mesa

A montagem da mesa já antecipa certo sentido dos rumos que o governo deve tomar, com as posições distribuídas entre PT, PDT/PSB, MDB e União Brasil, para ficar apenas nos principais. Veja-se o caso do UB, legenda cortejada em âmbito estadual e mesmo nacional, como indicam as investidas do deputado federal Júnior Mano - rechaçadas por Capitão Wagner, atual dirigente. O cobiçado partido figura na 3ª secretaria com Felipe Mota, entre pedetistas, petistas e o emedebista Danniel Oliveira, 1º vice-presidente, logo abaixo de Romeu - num aceno ao capital do deputado Eunício Oliveira (MDB). Tudo somado, é como se grande aliança tentasse se ampliar de olho em 2026, fechando as portas para virtuais oponentes, a exemplo de Roberto Cláudio, cuja ida ao UB já começou a ser cantada em prosa e verso.

Transição avinagrou

O clima na transição entre as equipes designadas de parte a parte em Fortaleza já foi melhor. Declarações recentes de Evandro Leitão, em tom de cobrança, repercutiram mal no Paço Municipal, contrariando o prefeito José Sarto (PDT). O gestor, contudo, tem sido aconselhado a conduzir os trabalhos estritamente na linha, sem criar dificuldades para o eleito, mas também sem cooperação em demasia.

 


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