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Os impactos da decisão de Zuckerberg
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

Os impactos da decisão de Zuckerberg

O posicionamento do CEO da Meta trata-se tão somente de evitar perdas financeiras num cenário no qual os concorrentes, tal como Elon Musk, dono do X, parecem mais bem colocados nessa disputa por capital de influência
Tipo Análise
MARK Zuckerberg, CEO da Meta, gigante das redes sociais que encerrou o programa de verificação de conteúdos falsos nos Estados Unidos (Foto: DREW ANGERER/AFP)
Foto: DREW ANGERER/AFP MARK Zuckerberg, CEO da Meta, gigante das redes sociais que encerrou o programa de verificação de conteúdos falsos nos Estados Unidos

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Mark Zuckerberg se reposicionou no mercado político depois da vitória de Donald Trump nos Estados Unidos. Naturalmente, isso não tem qualquer relação com liberdade de expressão. Trata-se tão somente de evitar perdas financeiras num cenário no qual os concorrentes, tal como Elon Musk, dono do X, parecem mais bem colocados nessa disputa por capital de influência que deriva de uma nova configuração social - ou de uma inflexão cultural, caso se queira.

O CEO da Meta se move menos porque tem compromisso com ideais democráticos, como pretende fazer crer com seu discurso masculinista, e mais porque as redes são um negócio estruturado para operar em ambientes de extremismo digital dos quais extraem sua rentabilidade.

De modo que o fim da moderação em plataformas como Facebook, Instagram e WhatsApp indica apenas que Zuckerberg deixou de lado qualquer pudor, aderindo de vez ao trumpismo, parte por tirocínio empresarial, parte porque representa melhor que ninguém esse ethos do Vale do Silício para o qual o identitarismo é hoje um problema mais grave do que os crimes atribuídos ao novo presidente do seu país.

Arriscaria ainda: parte porque esse ecossistema é constitutivamente refratário a qualquer noção de controle e filtragem, como se vê agora mesmo no trâmite do projeto de lei que tenta regular os conteúdos produzidos pelos usuários. É o que diferencia Zuckerberg de um jornalista profissional, por exemplo. Para um, a opacidade é fator sem o qual seus negócios não prosperam. Para o outro, a transparência é o horizonte que rege suas práticas.

O proprietário desse conglomerado de big techs farejou, no entanto, o "zeitgeist" pós-Biden. Esse é o alerta que ficou no ar após a divulgação do vídeo que, desde já, é o documento histórico de uma virada política global, ou seja, de um retrocesso cujo marco inaugural foi a consumação de uma coalizão que une as grandes do setor tecnológico com facções ultradireitistas capitaneadas por um magnata ressentido.

A alusão indireta aos "tribunais secretos" da América Latina é só a nota mais explícita dessa retórica beligerante, pressagiando um rearranjo de forças cuja resultante terá impactos sensíveis e desdobramentos preocupantes no Brasil, tanto pelos vínculos do bolsonarismo com Trump quanto pelas tensões entre STF e Musk, que tendem a se agravar mais ainda.

 

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