Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
A gestão terá de encontrar respostas rápidas e efetivas, sob pena de se desgastar politicamente para 2026 além do patamar já previsto
Foto: FÁBIO LIMA
GOVERNADOR Elmano de Freitas e o secretário da Segurança, Roberto Sá
O último fim de semana no Ceará demarcou um ponto de inflexão no enfrentamento do Governo do Estado contra as facções criminosas, não apenas pela decisão mais genérica que é constituir um grupo de investigação para apurar ataques recentes a empresas de internet. Mas pela compreensão, no Abolição, de que o quadro se deteriora rapidamente e que, diante dele, a gestão terá de encontrar respostas rápidas e efetivas, sob pena de se desgastar politicamente para 2026 além do patamar já previsto. Por uma razão principal: o eleitorado tende a reagir de modo mais severo ante investidas que desmantelam um serviço hoje essencial, sem o qual toda uma rede de pequenos negócios fica à deriva, mas que é também vital para o morador das periferias tanto da Capital quanto dos municípios de sua Região Metropolitana. Em bom português: o potencial de estrago de uma ação como essa pode criar o sentimento de que a administração está rendida. Há ainda um agravante, qual seja, o fato de que a internet é só a primeira de uma leva de atividades que figuram na mira desses grupos. O sentido de urgência, então, diz respeito a essa encruzilhada: perdida essa batalha, é a própria infraestrutura do Estado que se colocará em risco, a exemplo do que aconteceu no Porto do Pecém, caso esse tipo de ofensiva se torne rotineiro. E aí entra o contra-ataque do governo de Elmano de Freitas (PT), anunciado com ênfase e seguido da promessa: "Vamos pra cima".
Empresas já pagam "pedágio"
As facções reorganizam a economia local no momento em que passam a arbitrar a escolha de empresas que podem ou não operar numa dada região seja da cidade, seja do estado. É como se capturassem uma competência estrita do Executivo, a quem caberia o papel de ente de autoridade tanto pelo monopólio da violência quanto pelas prerrogativas constitucionais que lhe outorgam essa faculdade. Do controle do território pelo crime, segue-se o da transação comercial e social, implicando moradia e investimentos diversos. Da venda de água ao fornecimento de quentinhas, do transporte ao aluguel de imóveis, tudo estaria à mercê da chancela desse "poder paralelo" - uma vez que concorre com um poder institucional. Daí à cobrança de pedágio de provedores de internet é um pulo. Trata-se do desdobramento natural de uma modalidade econômica altamente mutante.
A pauta de 2026
Noves fora o discurso costumeiro em ano pré-eleitoral, a segurança já começa desde agora a determinar os termos do debate político do ano que vem. Notem-se, apenas a título de ilustração, as principais cenas de embates entre governo e oposição do fim de 2024 até aqui, sobretudo as que envolvem diretamente o chefe da Casa Civil de Elmano, o jornalista Chagas Vieira, e nomes como Capitão Wagner. O tema, que foi tópico obrigatório em todas as grandes disputas do Ceará, vem escalando na esteira de um avanço das facções sobre terrenos antes mais distantes da fronteira criminosa. É o caso da representação parlamentar e da gestão das cidades, com seus contratos e licitações envolvendo volume considerável de verba. O cenário hoje, sem dúvida, é mais desafiador do que o de uma década atrás, quando o então titular da Segurança Pública no estado negligenciou o fenômeno das facções.
O fator Guimarães
Líder do governo Lula na Câmara, o deputado federal José Guimarães (PT) praticamente assegurou sua candidatura ao Senado depois da série de rodadas para definição de ministério e da presidência do PT. Cotado tanto para as Relações Institucionais quanto para a direção nacional petista, o cearense foi preterido em ambas, mas deve chegar forte em 2026 para postular uma das duas vagas de senador pela chapa governista, que tem mais interessados do que cadeiras disponíveis.
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