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Anistia: o fato, a versão e a fake news
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

Anistia: o fato, a versão e a fake news

Veja-se o caso de uma vereadora de Fortaleza, por exemplo, que houve por bem se servir de um trecho da coluna para produzir um "fato alternativo"
Câmara dos Deputados (Foto: Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados)
Foto: Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados Câmara dos Deputados

Entre curioso e preocupado, acompanho a repercussão da momentosa coluna do colega Gualter George, publicada no último domingo, 13, no O POVO.

Curioso porque a matéria de que trata lateralmente, embora corra ligeira feito lebre sobre os carpetes de Brasília, acabou por se revelar escandalosa.

Mas daquele tipo de escândalo postiço, que se sabe fabricado unicamente para acusar um puritanismo de fachada por parte de nossa representação parlamentar, sempre pronta a se cobrir com o manto da pudicícia quando qualquer pormenorzinho mais buliçoso sobre o dia a dia da capital federal se torna público, por sabido que seja, até pelas emas do Planalto.

E preocupado porque a indignação seletiva de deputados redundou, como costuma ocorrer, numa absoluta distorção do que o jornalista havia escrito – ou do que eu entendi que ele havia escrito, já que se trata de um mundo pós-verdade, no qual cada um dispõe de um fato cambiante, sempre amoldado a seus gostos e humores, ao sabor das ocasiões.

Veja-se o caso de uma vereadora de Fortaleza, por exemplo, que houve por bem se servir de um trecho da coluna para produzir um “fato alternativo” – uma mentira, em bom português –, sugerindo que o jornalista fora desrespeitoso com as mulheres mandatárias porque as tinha acusado de operarem como “belas moças” no trabalho de convencimento para votação do requerimento de urgência da PEC da anistia.

Nada mais distante do que vai no texto, claro, mas quem se importa com interpretação ou com o sentido estrito e rigoroso das palavras, sobretudo se o objetivo é estimular linchamentos virtuais a partir de torções escancaradas?

Não entro no mérito, por certo, do que sustentou a coluna dominical, ainda que admita o pecado maior de ter esboçado um sorriso de canto de boca ao lê-la, não no próprio domingo, mas dias depois, já a par de que causara um “bafulê”, como gostava de dizer João Inácio Júnior, por uma ninharia dessas que, não fosse a grande atenção que obtivera dos deputados, talvez tivesse passado sem tantos holofotes – para prejuízo dos nobres congressistas.

Reprovo, todavia, essa reação queixosa que se dá além dos limites, já fora do âmbito da disputa política, campo no qual a crítica jornalística se inscreve, mesmo quando é apimentada e eventualmente indigesta.

Foto do Henrique Araújo

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