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Janja e Bolsonaro em rota de colisão
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

Janja e Bolsonaro em rota de colisão

Trata-se de coincidência que ambos estejam em Fortaleza, mas o acaso convida a pensar sobre os momentos desses personagens, os dois com relativa influência sobre os rumos de 2026
EX-PRESIDENTE Jair Bolsonaro (PL) estará em Fortaleza  (Foto: EVARISTO SAAFP)
Foto: EVARISTO SAAFP EX-PRESIDENTE Jair Bolsonaro (PL) estará em Fortaleza

A primeira-dama do Planalto Rosângela da Silva (Janja) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) chegam ao Ceará na mesma semana, separados por alguns dias e por uma agenda de natureza diversa no conteúdo e na forma: ela para participar de encontro ao lado do governador do Estado Elmano de Freitas (PT) nesta segunda-feira (26), ou seja, um ato oficial de correligionário em ano pré-eleitoral. Bolsonaro, por sua vez, é o principal nome de uma comitiva, da qual faz parte também o vereador carioca Carlos Bolsonaro, às voltas com um seminário de comunicação do PL previsto para a sexta, 30, no Centro de Eventos - mesmo local por onde passam Janja e seus companheiros petistas. Trata-se de coincidência que ambos estejam em Fortaleza, mas o acaso convida a pensar sobre os momentos desses personagens, os dois com relativa influência sobre os rumos de 2026. Embora não possa concorrer a novo mandato, Bolsonaro é figura sem a qual o campo da direita perde força, como se sabe, sobretudo ele, que tende a ungir um (a) candidato (a) de absoluta confiança, a quem ele emprestaria seu capital.

A força do "janjismo"

Noutra frente, Janja tem granjeado liderança desde o início da gestão do marido, que parece disposto a lhe dar retaguarda na esteira de episódios mais controversos, a exemplo da declaração sobre o TikTok. Essa exposição é tamanha a ponto de justificar sua inclusão entre cotados para suceder o presidente. Aos poucos, entre comentários jocosos de ministros incomodados e outros mais sérios de um entorno entusiasmado, vai se constituindo um "janjismo" no horizonte. Esse movimento faz o mercado político se perguntar se a primeira-dama teria condições de herdar o peso do "lulismo", na falta de quadros mais competitivos a quem a transmissão de capital não tem sido simples (leia-se, Haddad). Essa alquimia seria mais fácil com Janja?

Bolsonaro e a comunicação

Agora veja-se o que traz Bolsonaro à capital cearense: comunicação digital, plataformas, algoritmo, influência nas redes e outros temas de penetração num meio cuja estrutura é vital para determinar um novo modo de fazer política (não digo se bom ou ruim, apenas novo). Em relação a isso, a impressão é de que esse bloco conservador/direitista/extremista, seja lá que nome se queira dar a ele, segue à frente da esquerda/progressista/democrata. Em resumo: enquanto PT e adjacências operam ainda à moda antiga, o bolsonarismo está alguns anos adiante, preocupado em potencializar um desempenho virtual que já é de longe superior ao de seus adversários. A esse respeito, não custa lembrar o sufoco que o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) vem aplicando aos governistas. Sem entrar no mérito das produções do parlamentar, há um abismo entre os dois flancos da batalha.

Choque de agendas

E novamente Janja e Bolsonaro vêm a calhar nesse debate. A primeira-dama tem vocalizado a tese da regulamentação das redes, principalmente depois da viagem à China, razão pela qual se tornou alvo da bancada aliada ao ex-mandatário e daquela outra, que representa os interesses das chamadas "big techs", empresas interessadas em que a internet se mantenha como uma região opaca. Dentro do Governo, esse discurso foi assumido de vez por Janja, com o bônus do protagonismo e o ônus do "hate" digital. Só nos três últimos dias, foi caçada nas plataformas, o que obrigou o PT a cair em campo para defendê-la com a tag #EstoucomJanja, de baixíssimo engajamento. Nessa guerra de Nikolas x Lula, não é preciso ter o QI de um Zuckerberg para entender que o petismo está apanhando dia sim e outro também, como o caso mais recente do recuo sobre o IOF escancarou mais ainda.

 

 

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