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A esperança equilibrista
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Professor de História na rede pública Estadual de Ensino do Ceará. Doutor em História pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa Patrimônio e Memória (GEPPM-UFC) e vice-líder e pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisa História, Gênero e América Latina (GEHGAL-UVA)

A esperança equilibrista

Imensas fortunas travestidas de talento empresarial; dominação e exploração fantasiadas de competências e habilidades; usurpação que aparece como suor do próprio trabalho... Eis aí o longo cortejo da naturalização dos processos sociais e econômicos
Tipo Opinião
A realidade nos mostra a desigualdade em que vivemos (Foto: ElisaRiva/Pixabay)
Foto: ElisaRiva/Pixabay A realidade nos mostra a desigualdade em que vivemos

À entrada de um novo ano costuma-se proclamar esperanças. A crença de que tudo conspira para que a melancolia do ano anterior ceda lugar à folia do novo calendário causa a impressão, e eventualmente o desejo, de andarmos em passo largo na direção do bem-estar coletivo, esse imperativo da sobrevivência da humanidade.

A realidade, porém, tem nos mostrado continuamente que a desigualdade dita, nos termos mais rígidos, quem consegue viver e quem corre o risco de morrer.

O absoluto desequilíbrio socioeconômico, a vergonhosa concentração de riqueza, as dificuldades de acesso aos serviços de educação e saúde, a luta cotidiana para manter moradia e emprego dignos são sintomáticos de um sistema capitalista que, entra ano e sai ano, falha intencionalmente em atender às necessidades mais básicas de parcela expressiva da população enquanto uma miúda porção, injusta e cafona, esbanja seus luxos.

Imensas fortunas travestidas de talento empresarial; dominação e exploração fantasiadas de competências e habilidades; usurpação que aparece como suor do próprio trabalho... Eis aí o longo cortejo da naturalização dos processos sociais e econômicos que configuram a desigualdade no mundo.

Em qualquer tempo, sobretudo nos momentos de crises econômica, política e sanitária, isso tem consequências devastadoras para quem não ocupa posição de privilégio na escala econômica. Veja-se, por exemplo, a notícia de que os dez homens mais ricos do mundo concentram seis vezes mais riqueza do que os 3,1 bilhões mais pobres do planeta.

Para ser mais claro: a fortuna desses homens cresceu 15 mil dólares por segundo na pandemia, o que representa pouco mais 82 mil reais no câmbio atual.

Tais valores provam que as elites econômicas fizeram, fazem e farão tudo o que puderem para impedir a existência de um mundo igualitário.

Essa gente segue em estado permanente de vigilância dos privilégios, seus ou da sua classe. Se pensando como casta, é questão de honra que a riqueza esteja ao alcance somente de pessoas exclusivas e superiores, que não seja compartilhada com a massa indiferenciada de gente que ela nem reconhece nem respeita.

Mas quando viramos a folhinha do calendário, também tendemos a mudar nossos desejos e expectativas diante da agressividade do real.

Parece cada vez mais urgente que nos sintamos estimulados a ponderar sobre o futuro, impedir o ódio, encerrar o ciclo arrogante e moralista, não sucumbir aos negacionistas da vida, evocando o mantra entoado por Millôr Fernandes: “nos dias cotidianos é que se passam os anos”.

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