Professor de História na rede pública Estadual de Ensino do Ceará. Doutor em História pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa Patrimônio e Memória (GEPPM-UFC) e vice-líder e pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisa História, Gênero e América Latina (GEHGAL-UVA)
Imensas fortunas travestidas de talento empresarial; dominação e exploração fantasiadas de competências e habilidades; usurpação que aparece como suor do próprio trabalho... Eis aí o longo cortejo da naturalização dos processos sociais e econômicos
À entrada de um novo ano costuma-se proclamar esperanças. A crença de que tudo conspira para que a melancolia do ano anterior ceda lugar à folia do novo calendário causa a impressão, e eventualmente o desejo, de andarmos em passo largo na direção do bem-estar coletivo, esse imperativo da sobrevivência da humanidade.
A realidade, porém, tem nos mostrado continuamente que a desigualdade dita, nos termos mais rígidos, quem consegue viver e quem corre o risco de morrer.
O absoluto desequilíbrio socioeconômico, a vergonhosa concentração de riqueza, as dificuldades de acesso aos serviços de educação e saúde, a luta cotidiana para manter moradia e emprego dignos são sintomáticos de um sistema capitalista que, entra ano e sai ano, falha intencionalmente em atender às necessidades mais básicas de parcela expressiva da população enquanto uma miúda porção, injusta e cafona, esbanja seus luxos.
Imensas fortunas travestidas de talento empresarial; dominação e exploração fantasiadas de competências e habilidades; usurpação que aparece como suor do próprio trabalho... Eis aí o longo cortejo da naturalização dos processos sociais e econômicos que configuram a desigualdade no mundo.
Em qualquer tempo, sobretudo nos momentos de crises econômica, política e sanitária, isso tem consequências devastadoras para quem não ocupa posição de privilégio na escala econômica. Veja-se, por exemplo, a notícia de que os dez homens mais ricos do mundo concentram seis vezes mais riqueza do que os 3,1 bilhões mais pobres do planeta.
Tais valores provam que as elites econômicas fizeram, fazem e farão tudo o que puderem para impedir a existência de um mundo igualitário.
Essa gente segue em estado permanente de vigilância dos privilégios, seus ou da sua classe. Se pensando como casta, é questão de honra que a riqueza esteja ao alcance somente de pessoas exclusivas e superiores, que não seja compartilhada com a massa indiferenciada de gente que ela nem reconhece nem respeita.
Mas quando viramos a folhinha do calendário, também tendemos a mudar nossos desejos e expectativas diante da agressividade do real.
Parece cada vez mais urgente que nos sintamos estimulados a ponderar sobre o futuro, impedir o ódio, encerrar o ciclo arrogante e moralista, não sucumbir aos negacionistas da vida, evocando o mantra entoado por Millôr Fernandes: “nos dias cotidianos é que se passam os anos”.
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