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Cerveja: Histórias que os rótulos não contam
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Publicitário, especialista em Marketing , Mestre em Administração e Sommelier de cerveja. Desde 2013, atua na área de treinamento, consultoria e educação cervejeira, sendo pioneiro em Fortaleza. Foi professor da disciplina de cultura cervejeira na pós-graduação de gastronomia da Fanor, e é um dos idealizadores e professor do curso de Beer Sommelier do Senac/CE. É colunista de cervejas do O POVO s Sommelier de cervejas do quadro

João Filho gastronomia

Cerveja: Histórias que os rótulos não contam

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Cerveja Artesanal Imigração Sour Belgian Lambic (Foto: Cerveja Box/Divulgação)
Foto: Cerveja Box/Divulgação Cerveja Artesanal Imigração Sour Belgian Lambic

Quando pensamos em cerveja, logo vem à mente o copo gelado, a espuma cremosa e o brinde entre amigos. Mas por trás desse líquido dourado (ou escuro, âmbar, avermelhado...) existem histórias curiosas, erros que viraram acertos e até processos que parecem obra do acaso.

Você sabia que a IPA, hoje um dos estilos mais populares, surgiu de uma necessidade logística? No século XVIII, os ingleses precisavam enviar cerveja para suas colônias na Índia. A solução foi turbinar a bebida com mais lúpulo — um conservante natural — e aumentar o teor alcoólico. Resultado: uma cerveja mais amarga, resistente às longas viagens, que acabou conquistando o mundo.

E as sour beers, aquelas azedinhas e refrescantes, surgiram muito antes do controle microbiológico. Durante séculos, as cervejas fermentavam naturalmente com leveduras e bactérias presentes no ambiente, o que resultava em sabores ácidos, complexos e muitas vezes imprevisíveis. Com a chegada da pasteurização e da busca por padronização, a acidez passou a ser vista como defeito em boa parte do mundo, exceto nas regiões que mantiveram viva essa tradição, como a Bélgica e partes da Alemanha. Hoje, estilos como lambic, gose e berliner weisse são celebrados exatamente por essa característica.

Até a famosa stout tem sua dose de acaso. A "porter", cerveja escura e encorpada, fazia tanto sucesso entre os trabalhadores londrinos, que os cervejeiros começaram a criar versões mais potentes e alcoólicas — as "stout porter", que com o tempo ficaram conhecidas apenas como stout.

Outro exemplo curioso é a gose, uma cerveja que leva sal na receita. Isso não foi ideia de um cervejeiro ousado, mas sim uma consequência da água naturalmente salinizada da cidade de Goslar, na Alemanha. O que poderia parecer um defeito se transformou em um estilo único, que combina acidez, salinidade e leve toque de coentro.

O lado B da cerveja revela que nem sempre a genialidade vem da perfeição. Muitas vezes, ela nasce do improviso, da necessidade ou até de pequenos acasos que se transformaram em legado cultural. E é por isso que, mais do que uma bebida, a cerveja é uma história viva que se reinventa a cada gole.

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