Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO
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O Chile terá no próximo domingo a eleição mais importante da América Latina em 2021. Em uma disputa marcada por acentuada polarização durante um processo de mudança constitucional, os candidatos José Antonio Kast, de extrema-direita e Gabriel Boric, de esquerda, se encontram no segundo turno marcado pelas tentativas de ambos em amenizar os discursos.
Com 27,91% e 25,83%, respectivamente, Kast e Boric saíram vitoriosos da primeira etapa da eleição. Com campanhas que tiveram discursos de teor mais radical, ambos subiram o tom e se aproveitaram da crise nas coalizões mais tradicionais de centro-direita e centro-esquerda, que se revezam no poder desde a redemocratização chilena em 1990.
Kast, um advogado de 55 anos, é um defensor convicto da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). Com discurso alinhado à nova extrema-direita mundial representada por figuras como Donald Trump e Jair Bolsonaro, chegou a propor a detenção forçada de opositores durante períodos de estado de exceção.
Boric, um ex-líder estudantil de apenas 35 anos, é crítico ao modelo econômico liberal implantado após a ditadura, que sobrecarregou as classes média e baixa endividadas com saúde, educação e previdência privada. Modelo esse que culminou nos protestos de 2019 em todo o país, que resultaram no plebiscito que aprovou a formação de uma nova Assembleia Constituinte.
Agora, em uma disputa acirrada, segundo as pesquisas, Kast e Boric fazem discursos mais voltados ao centro, tentando conquistar a grande fatia de eleitores moderados. Sobretudo os indecisos. A cinco dias da votação, qualquer palpite em relação ao resultado vai ficar limitada a exatamente isso: um palpite.
Numericamente, os levantamentos dão uma pequena vantagem a Boric – 41% a 38,7% segundo pesquisa da AtlasIntel divulgada há dez dias (no Chile não é permitida a divulgação de pesquisas nas duas semanas anteriores ao pleito). Além da margem apertada, outros fatores contribuem para essa incerteza.
Pensando pelo ponto de vista ideológico, seria natural concluir que os votos no primeiro turno do candidato de centro-direita Sebastián Sichel (12,79%) iriam majoritariamente para Kast, enquanto os da postulante de centro-esquerda, Yasna Provoste (11,60%), migrariam em maior parte para Boric.
No entanto, essa correlação não é automática porque o voto no Chile não é obrigatório. Ou seja, quem foi às urnas no primeiro turno em novembro não irá necessariamente no próximo domingo.
Outro fator é o grande contingente de indecisos: 20%. Boa parte parcela do eleitorado esteve com o outsider Franco Parisi, 3º colocado no primeiro turno (12,81%), e será decisiva para o resultado final.
Na última semana, a Associated Press revelou documentos confirmando algo que já se desconfiava e era usado pelos adversários de José Antonio Kast. O pai dele, o alemão Michael Kast Schindele – que migrou para o Chile em 1951 –, foi membro do partido nazista de Adolf Hitler, com ficha de inscrição datada de 1942. O documento, portanto, desmente as negativas do candidato, de que seu pai teria prestado apenas o serviço militar compulsório durante a 2ª Guerra.
Sobre isso, três pontos. O primeiro é que Kast não deveria ser julgado por ser filho de quem é. Ele não escolheu ser filho de um nazista. E não é responsável por aquilo que o pai foi ou fez.
Posto isso, o segundo ponto é: os laços familiares com o pai nazista não dão razão a José Antonio Kast de defende-lo. Ou mesmo de mentir para tentar limpar a barra do pai, que, como se não bastasse, foi um colaboracionista com a ditadura Pinochet.
Terceiro ponto. Defender o legado pinochetista é inaceitável sob qualquer aspecto. E não se trata de uma questão de ser de direita ou conservador. O presidente Sebastián Piñera, que termina agora o seu segundo mandato, é um dos principais representantes da direita latino-americana dos últimos 30 anos e rechaça qualquer tipo de elogio à ditadura.
Os anos Pinochet deixaram um legado nefasto no Chile, com mais de 40 mil vítimas, sendo 3.225 mortos ou desaparecidos e mais de 30 mil pessoas torturadas. Cerca de 90% das mulheres detidas foram estupradas dentro da prisão.
Rechaçar período tão nefasto da histórico é a condição mais básica para qualquer candidato que se proponha a participar e liderar um processo democrático.
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