Logo O POVO+
Chile vai às urnas no domingo para escolher novo presidente
Mundo

Chile vai às urnas no domingo para escolher novo presidente

| Eleições no Chile | Nos últimos 15 anos, o país teve apenas dois presidentes se alternando no poder. Caberá ao próximo presidente a gestão de desafios como a aprovação de uma nova Constituição que deve ter texto apresentado até julho de 2022
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
CANDIDATOS Gabriel Boric, Jose Antonio Kast, Yasna Provoste e Sebastian Sichel posam antes de um debate na TV em Santiago (Foto: ESTEBAN FELIX / POOL / AFP)
Foto: ESTEBAN FELIX / POOL / AFP CANDIDATOS Gabriel Boric, Jose Antonio Kast, Yasna Provoste e Sebastian Sichel posam antes de um debate na TV em Santiago

Nos últimos 15 anos, o Chile teve apenas dois presidentes se alternando no poder. Michelle Bachelet (centro-esquerda) gerenciou o país em duas ocasiões (2006-2010 e 2014-2018) e Sebastián Piñera (centro-direita), que presidiu o Chile de 2010 a 2014 e é o atual chefe de Estado. No próximo domingo, 21, o cenário mudará.

Os chilenos vão às urnas para escolher um inédito presidente após um par de anos de turbulência com crise política e institucional e revoltas sociais que provocaram o início de profundas mudanças internas no país andino.

Com o desgaste da gestão Piñera, que culminou num processo de impeachment aprovado na Câmara e rejeitado pelo Senado esta semana, e com a ex-presidente Bachelet anunciando que não concorreria, as portas se abriram para novos e velhos candidatos com roupagens e projetos variados. No pleito de domingo, cerca de 15 milhões de pessoas estão aptas a votar na eleição que renovará parte do Congresso e os conselhos regionais.

Segundo as pesquisas, dos sete candidatos ao La Moneda (palácio presidencial) a polarização gira em torno dos nomes da extrema direita e da esquerda, José Antonio Kast e Gabriel Boric, respectivamente. Outros postulantes não conseguiram decolar, de acordo com os levantamentos de intenção de voto.

Candidato presidencial chileno pelo partido Republicano Jose Antonio Kast, gesticula durante entrevista coletiva em Santiago, em 12 de novembro de 2021. Chile realiza eleições presidenciais em 21 de novembro de 2021.(Foto: MARTIN BERNETTI / AFP)
Foto: MARTIN BERNETTI / AFP Candidato presidencial chileno pelo partido Republicano Jose Antonio Kast, gesticula durante entrevista coletiva em Santiago, em 12 de novembro de 2021. Chile realiza eleições presidenciais em 21 de novembro de 2021.

O instituto Criteria aponta vantagem de 24% a 23% para Kast, enquanto o Data Influye indicou, em outubro, 32% a 27% para Boric. Os números podem variar até a hora do voto, já que cerca de metade dos eleitores diz estar indecisa e ao menos 15% que decidirão o candidato no dia do pleito.

A atual polarização é também um fruto dos conflitos que o Chile experiencia desde 2019, quando eclodiram protestos sociais que culminaram na elaboração de uma nova Constituição.

Enquanto Kast soube capitalizar eleitores que perderam a crença na gestão Piñera, Boric é visto como a principal opção de oposição ao atual governo de direita. Kast esteve entre os que votaram contra a nova constituinte. Já Boric foi a favor da elaboração do documento.

Kast é considerado um pinochetista de carteirinha. Recentemente ele afirmou que não considera o regime de Augusto Pinochet (1973-1990) uma ditadura e fez comparações com outros regimes autoritários na América Latina, como Cuba, Nicarágua e Venezuela para justificar a afirmação.

Dados oficiais do Chile mostram que pelo menos 3,2 mil pessoas foram assassinadas e mais de 40 mil torturadas no período em que o país esteve sob o comando dos militares.

A volta de um pinochetista à disputa real pela presidência é produto da atual crise política chilena, segundo analistas. O próprio Kast recebeu apenas 7% dos votos na eleição presidencial de 2017.

 

O cientista político Fábio Gentile avalia que a extrema direita chilena cresceu porque movimentos como esse ganham projeção “nas grandes crises, com escândalos de corrupção, impeachment e conflitos políticos''.

“Eles representam um abrigo confortável para diferentes setores com narrativas contra a corrupção e contra direitos sociais e de gênero sob argumento de proteger a família”.

Cleyton Monte, professor vinculado ao Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídias (Lepem-UFC), explica que o Chile não vive apenas uma crise conjuntural, mas a crise política de um modelo de governança.

“É um modelo gestado no período da ditadura de Pinochet que conseguiu, mesmo após o seu fim, continuar presente nas estruturas de governo, na representação parlamentar e na atual Constituição. Em resumo, na vida das pessoas”.

Na outra ponta, Gabriel Boric, deputado da esquerda, é o candidato mais jovem da história das eleições presidenciais aos 35 anos. Com pautas de reformas sociais e defesa de direitos dos trabalhadores, ele assinou o acordo para a reforma constitucional dizendo esperar que a nova Carta Magna acabe com a concentração de poder do atual sistema e que se for eleito presidente espera encerrar o mandato com “menos poder do que quando começou".

O candidato presidencial chileno pelo partido Apruebo Dignidad Gabriel Boric gesticula ao falar durante um debate no Instituto Chileno de Administração Racional de Empresas (ICARE), em Santiago, em 11 de novembro de 2021. O Chile realizará eleições presidenciais em 21 de novembro.(Foto: MARTIN BERNETTI / AFP)
Foto: MARTIN BERNETTI / AFP O candidato presidencial chileno pelo partido Apruebo Dignidad Gabriel Boric gesticula ao falar durante um debate no Instituto Chileno de Administração Racional de Empresas (ICARE), em Santiago, em 11 de novembro de 2021. O Chile realizará eleições presidenciais em 21 de novembro.

O vencedor da eleição estará no poder quando a nova Constituição for apresentada. Por isso, Monte lembra que caberá ao novo gestor a tarefa de convocar um plebiscito para analisar o documento que deve ter o texto finalizado até julho de 2022.

“Acredito que ainda haverá um período de transição, o próximo presidente ainda vai enfrentar conflitos porque a questão não é apenas a apresentação da nova Constituição, mas sua implementação”, projeta, citando a fragmentação de forças e a polarização como obstáculos a serem superados.

O que você achou desse conteúdo?