Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO
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O Brics anunciou em agosto um dos movimentos mais ousados da história do bloco, com a entrada de seis novos membros: Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã. Esses países se juntariam ao grupo de emergentes a partir de 1º janeiro de 2024.
O anúncio das adesões foi antecedido de meses de negociações nos bastidores entre esses países e aqueles que fundaram um bloco. Sobretudo China e Rússia, os maiores entusiastas da expansão do Brics, a despeito da relutância de Brasil e Índia.
Portanto, é de se imaginar que após tantas idas e vindas que a entrada oficial nos novos membros no início do ano que vem seja meramente uma questão de tempo. Especificamente para o caso da Argentina não é algo tão simples.
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Apenas Sergio Massa, candidato governista e “superministro” da Economia do governo Alberto Fernández, defendeu a entrada da Argentina no bloco. Brasil e China, dois dos maiores parceiros comerciais do país platino estão no Brics e são essenciais para a sobrevida da balança comercial argentina. Os chineses também são fiadores de um recente empréstimo junto ao FMI para segurar as pontas e as contas do país no curto prazo.
Javier Milei, nome da extrema-direita que terminou as primárias na liderança, segue a retórica “anticomunista” e promete não fazer negócios com a China. É um movimento previsível do candidato que promete “dolarizar” a economia do país sul-americano num momento em que o Brics fala abertamente sobre o uso de outras moedas que não a dos EUA para as transações dentro do bloco.
Mais curiosa tem sido a postura de Patricia Bullrich, candidata da direita tradicional e ligada ao ex-presidente Maurício Macri. Também de olho em parcela do eleitorado de Milei, ela prometeu não seguir adiante com a adesão ao Brics caso seja eleita.
Bullrich cita ainda em sua rejeição ao Brics as suspeitas de ligação do Irã e do Hezbollah com o atentado terrorista contra Associação Mutual Israelita (Amia) de 18 de julho de 1994, em Buenos Aires, que deixou 85 mortos. O governo iraniano é acusado formalmente na Argentina de planejar o ataque.
A Argentina tem a sétima maior comunidade judaica fora de Israel, a maior da América Latina. O atentado contra a Amia é um trauma ainda presente que também serve de trunfo eleitoral.
Entre a posse na Argentina, prevista para 10 de dezembro, e a data marcada para entrada no Brics serão apenas três semanas. Prazo curto para Milei ou Bullrich, caso vençam, seguirem com o plano e arcarem com os efeitos de começar o mandato já em desacordo com as potências emergentes. Tempo enxuto também para mudar de ideia e descumprir uma promessa de campanha tão rapidamente.
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