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Sem cassação de Glauber, Motta descumpre promessa feita a Lira
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João Paulo Biage é jornalista há 13 anos e especialista em Comunicação Pública. De Brasília, acompanha, todos os dias, os passos dos parlamentares no Congresso Nacional e a movimentação no Palácio do Planalto, local de trabalho do presidente. É repórter e comentarista do programa O POVO News e colunista do O POVO Mais

Sem cassação de Glauber, Motta descumpre promessa feita a Lira

Queimado com governo e oposição, Hugo Motta deixou Arthur Lira revoltado ao não conseguir cassar o mandato de Glauber Braga
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O deputado Glauber Braga não foi cassado, mas está suspenso por 6 meses (Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)
Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados O deputado Glauber Braga não foi cassado, mas está suspenso por 6 meses

Estava tudo parcialmente combinado para a Câmara cassar o deputado Glauber Braga (Psol). A oposição já comemorava, os governistas não viam o que poderia ser feito para manter o mandato de Glauber, foi colocado como primeiro ponto de pauta… Tudo parecia certo, mas veio a primeira votação: no pedido de retirada de pauta, feito pelo Psol, o placar marcou 245 votos para manter a análise do relatório. Na mesma hora, olhei pro quórum: 470 deputados presentes. São necessários 257 votos para cassar e Glauber ganhava um respiro.

O clima do plenário mudou. Imagine o seguinte: o plenário da Câmara dos Deputados tem 300 cadeiras, mas os parlamentares ficam aglomerados em 4 ou 5 fileiras; à direita fica a oposição e à esquerda, os governistas. Antes dessa votação, a esquerda estava sentada, sem reação, dando apoio a Glauber e o outro lado gravando vídeos e fazendo piadas. Foi só sair o placar que a situação mudou.

O assessor de Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) correu atrás do chefe. Taliria Petrone, líder do Psol, foi falar com Lindbergh Farias. Depois, procurou José Guimarães (PT). A ideia era colocar o governo para negociar com o centrão, mas, principalmente, com o PSD. O Psol tinha os apoios de PT, PSB, PDT e MDB. Arthur Lira (PP-AL), o patrocinador da tentativa de cassação de Glauber, conseguiu os apoios de PL, Novo, União Brasil e do partido dele, o PP.

As ideias eram distintas: a oposição precisava de, pelo menos, 25 deputados — elevar o quórum para 495. Os psolistas queriam que o quórum caísse. A estratégia não era enfrentar Lira ou fazer parte do parlamento se indispor com o chefe. Foi aí que entrou o governo pedindo para que os parlamentares de centro não votassem, e o PSD aderiu em peso.

Com a derrota em vias de ocorrer, para tentar amansar a fera alagoana, o centrão propôs à Taliria a suspensão do mandato. O enviado para fazer a negociação foi Pedro Paulo (PSD-RJ), rival político de Glauber e homem de confiança de Hugo Motta. Coube a ele propor o afastamento por 6 meses, prontamente aceito pela líder do partido socialista. Acordo feito, e votação divulgada: o número dos que queriam a cassação caiu para 220.

No gabinete, Arthur Lira virou uma fera. Todo mundo sabia que ele era o arquiteto e o engenheiro da cassação de Glauber. Lira odeia o socialista, mas muito. Glauber foi um dos poucos a enfrentar o ex-presidente da Câmara e fez iniciou o movimento de denúncias contra as emendas de relator — conhecido como Orçamento Secreto — operacionalizado por Lira.

Foi manejando o dinheiro que Lira se elegeu e reelegeu na Câmara sem ninguém dar um pio. Ninguém, não. Quase ninguém. Quando Glauber gritou, Lira tentou calá-lo. Durante a busca por um sucessor, Lira fazia uma exigência: o próximo presidente precisava cassar Glauber. Ele ouviu de Motta que o faria. E não fez.

Agora, Hugo Motta coleciona insatisfações. Está brigado com o governo; tenta flertar com a oposição, que não gosta dele; e está sendo humilhado pelo próprio padrinho político. Pois é… Arthur Lira está dizendo por aí que o presidente da Casa não tem controle sobre o Congresso. E ele, realmente, não tem.

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