Joelma Leal assume como ombudsman do O POVO no mandato 2023/2024. É jornalista e especialista em Marketing. Atuou como editora-executiva de sete edições do Anuário do Ceará, esteve à frente da coluna Layout por 12 anos e foi responsável pela assessoria de comunicação do Grupo, durante 11 anos.
Aspas costumam ser assunto delicado. Uma alteração, mínima que seja, pode dar margem para interpretações múltiplas, seja um acréscimo, seja a exclusão de um trecho (ou de uma única palavra)
Somente pelos enunciados, é possível deduzir que as pautas são relacionadas ao filme "Ainda Estou Aqui", protagonizado pela atriz Fernanda Torres e dirigido por Walter Salles. A lista de notícias acerca da película é ainda mais extensa, nos mais diversos meios de comunicação, incluindo O POVO. No elenco, ainda estão Selton Mello, Fernanda Montenegro e demais nomes celebrados do universo cinematográfico.
O burburinho em volta do filme é bem-vindo, compreensível e legítimo. A obra retrata a história da advogada Eunice Paiva, considerada um dos símbolos na luta contra a ditadura militar no Brasil e auxiliou nas buscas por seu marido, Rubens Paiva, desaparecido político desde 1971. Material inspirado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, filho da protagonista.
Eis que na edição da última segunda-feira, 18, O POVO apresentou na primeira página da edição impressa uma chamada de destaque, ressaltando o "exclusivo" para uma entrevista, muito bem conduzida e publicada em duas páginas do caderno Vida & Arte.
A citada chamada trouxe os seguintes dizeres: "Exclusivo: Fernanda Torres ressalta força de "Ainda Estou Aqui" para além da "bolha da esquerda". O mesmo texto foi reproduzido nos perfis das redes sociais do Vida & Arte, do O POVO e do OP+.
Até aí tudo bem, entretanto, ao ler a entrevista na íntegra, é possível constatar que a fala completa da atriz foi a seguinte: "É um pedaço da história que a gente não conhecia. O público ainda sai com isso. Do ponto de vista, não de um guerrilheiro, de um cara politizado, mas da família. E isso eu acho que cria uma empatia com o público e fura a bolha de esquerda, direita, progressista ou conservador." Ou seja, há bem mais texto após a palavra "esquerda".
A observação foi encaminhada aos funcionários do O POVO, internamente, na própria segunda-feira. No mesmo dia, uma série de leitores comentou nas redes sociais sobre a imprecisão da chamada.
Já na terça-feira, 19, um leitor entrou em contato com a ombudsman a fim de fazer uma indagação semelhante. "Vou fazer um questionamento a respeito da chamada para a entrevista da Fernanda Torres para o jornal, publicada ontem com destaque na capa do impresso. Qual foi o critério para terem escolhido destacar apenas um grupo político na manchete sendo que a declaração dela foi mais abrangente? Ela não falou de uma única bolha, ela falou de várias. O filme 'furou a bolha' e o jornal preferiu destacar a de esquerda por qual motivo? Não é a primeira e parece que não será a última vez que O POVO se utiliza de algumas 'polêmicas artificiais' para chamar atenção, mas um pouco de cautela seria interessante. É um artifício que volta e meia aparece no digital, mas estranha aparecer na capa do impresso, que deveria ser mais criteriosa neste sentido".
Novamente, a observação foi compartilhada, por meio do e-mail enviado de segunda a sexta-feira, para cerca de 150 funcionários. Outra leitora comentou: "O POVO sustentou mesmo um clickbait em uma exclusiva?! Foi bem tendenciosa a escolha!". Ao fazer referência sobre a prática de "caça-cliques".
Retorno da Redação
Sobre o assunto e os questionamentos, o editor-chefe do Vida & Arte, o jornalista Renato Abê, considera que "o revisionismo dos fatos ocorridos durante a ditadura militar costuma ser uma pauta encabeçada, no Brasil, pelas alas alinhadas à esquerda e esse recorte se reflete diretamente nas produções audiovisuais nacionais. Fernanda Torres sabe bem disso. Ela — que esteve em 'O que é isso companheiro?', de 1997, e agora integra 'Ainda Estou Aqui' — ressaltou, em entrevista ao O POVO, que o longa de Walter Salles se constrói 'do ponto de vista, não de um guerrilheiro, de um cara politizado, mas da família'".
Ele conclui que: "portanto, a produção dialogaria não apenas com o público-alvo mais óbvio - a esquerda, evidentemente - e ultrapassaria essas fronteiras agradando um espectador 'progressista ou conservador', como Fernanda ressaltou durante a entrevista. Todo esse contexto, sustentado durante as respostas da atriz, foi refletido na escolha do recorte para a chamada da entrevista, que, inclusive, foi muito bem conduzida por Arthur Gadelha".
É compreensível o contexto apresentado pelo editor, considerando a história e todos os fatores envolvidos. No entanto, também é mais que coerente a percepção dos inúmeros leitores acerca do recorte escolhido para a principal vitrine da edição, assim como os canais que mais têm visibilidade entre os públicos.
Aspas costumam ser assunto delicado. Uma alteração, mínima que seja, pode dar margem para interpretações múltiplas, seja um acréscimo, seja a exclusão de um trecho (ou até mesmo, de uma única palavra). Pensamento válido para o Jornalismo ou para questões do dia a dia. Para o meio impresso, no rádio, audiovisual ou mesmo em aplicativo de mensagem. Seja um assunto banal, seja algo relacionado à arte, à política, economia ou outra abordagem. Daí o cuidado e a rigidez ao reproduzir falas, de quem quer seja.
A nova semana começou e os assuntos oriundos de Brasília permanecem pautando os noticiários. A mais recente é a descoberta da trama golpista, que planejava os assassinatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice Geraldo Alckmin e do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
Na edição de sexta-feira, 22, a primeira página do O POVO foi exclusiva sobre o assunto, informando os nomes e as respectivas funções dos 37 indiciados relacionados ao caso. Sem dúvida, um assunto que renderia debates bem proveitosos.
Em tempo: uma pena que o formato do programa Debates do Povo, nas rádios O POVO CBN e O POVO CBN Cariri, esteja alterado, exatamente, no decorrer dos últimos dias para dar lugar ao projeto anual "Grandes Nomes, Grandes Entrevistas" que apresenta entrevistas (frias) com personalidades das mais diversas áreas. O programa de debates retorna ao modelo original a partir da próxima terça-feira, dia 26, no horário habitual, às 16 horas. Sem dúvida, um canal pertinente para as discussões de ideias, em sua maioria, polêmicas.
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