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O "peso" dos CEPs
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Joelma Leal assume como ombudsman do O POVO no mandato 2023/2024. É jornalista e especialista em Marketing. Atuou como editora-executiva de sete edições do Anuário do Ceará, esteve à frente da coluna Layout por 12 anos e foi responsável pela assessoria de comunicação do Grupo, durante 11 anos.

Joelma Leal ombudsman

O "peso" dos CEPs

Os CEPs ainda pesam, seja em Esportes, seja em Economia, e - por vezes - acaba por ser omitido ou injustiçado de forma automática
Tipo Opinião
Futsal: São João do Jaguaribe goleia o Fortaleza e conquista campeonato cearense (Foto: João Moura / Fortaleza EC)
Foto: João Moura / Fortaleza EC Futsal: São João do Jaguaribe goleia o Fortaleza e conquista campeonato cearense

Não raro, os clubes da região Nordeste são esquecidos ou omitidos em notícias relacionadas a triunfos. A constatação foi mencionada aqui na coluna ainda no mês de agosto último, quando o Fortaleza Esporte Clube ocupava a vice-liderança da série A do Campeonato Brasileiro e o apresentador do "CBN Primeiras Notícias", da rádio CBN nacional, noticiou, após a leitura dos placares do fim de semana: "A gente tem aí uma briga de cachorro grande…Flamengo, Palmeiras e Botafogo lá no alto da tabela e o time do Fortaleza se metendo também". O adendo veio em seguida: "Fortaleza também é grande e tem feito campanhas muito fortes aí nos últimos campeonatos, nas últimas edições do Campeonato Brasileiro".

Nessa semana que passou, outro caso repercutiu: o goleiro João Ricardo, do Fortaleza Esporte Clube, não entrou na lista dos melhores do ano. O assunto foi matéria de capa do caderno de Esportes de quarta-feira, 11. O abre (texto abaixo do título) resumia: "Mesmo sendo líder de estatísticas importantes da posição, goleiro ficou fora das listas da CBF e da ESPN dos melhores do Brasileirão. John, do Botafogo, foi eleito o melhor arqueiro em ambos prêmios".

Na edição impressa, o título escolhido foi "Melhores da Série A: Não está faltando alguém na lista?". A indignação também foi pauta da entrevista com o CEO do Fortaleza, Marcelo Paz, durante o programa Esporte do POVO, da rádio O POVO CBN, de quarta-feira, 11.

Na ocasião, o dirigente contestou e ironizou a ausência: "Acho que o João Ricardo joga vôlei. É absurdo ele não ter sido indicado para todas as seleções do campeonato. Não tem lógica nenhuma. Ele foi o melhor goleiro do Campeonato Brasileiro e ponto, isso é indiscutível. Não posso dizer que ele é o melhor goleiro do Brasil porque existem outros goleiros que têm outros feitos, mas o melhor goleiro do Campeonato Brasileiro foi o João Ricardo. Se você colocar qualquer estatística, vai provar isso, além de ter jogado os 38 jogos".

Pois bem, também na quarta-feira, 11, outra partida e angulação escolhida para outro conteúdo foi alvo de questionamentos de leitores. Trata-se da matéria que informava sobre a vitória do time de futsal de São João do Jaguaribe, que havia goleado o Fortaleza.

Ainda na noite da terça-feira, 10, a matéria com o resultado foi veiculada no portal O POVO e intitulada da seguinte forma: "Futsal: Fortaleza é goleado pelo São João de (sic) Jaguaribe e fica com o vice do Cearense". Na edição impressa de quarta-feira, 11, o título foi outro: "São João de (sic) Jaguaribe vence Fortaleza e é campeão cearense de futsal".

A escolha do título do portal foi questionada por leitores, que fizeram comparações com demais veículos, assim como o tratamento dado pela mídia nacional ou sudestina aos clubes locais.

Um dos leitores apontou: "Acredito que houve inversão de valores nesta matéria, que não dá os méritos ao São João do Jaguaribe…destaca o vice do Fortaleza e esquece o campeão...o DN fez o contrário e o correto. Basta comparar os títulos: 'São João do Jaguaribe goleia Fortaleza e é bicampeão Cearense de Futsal'. Engraçado é que isso sempre acontece com o Ceará e o Fortaleza, mas de maneira invertida, com relação aos clubes do sul e sudeste. A galera aqui fica incomodada, aí vai lá e repete".

Outra leitora criticou e sugeriu pautas acerca do assunto: "Ontem, o time que representa o município cearense de São João do Jaguaribe (SJJ) sagrou-se bicampeão cearense de Futsal, em cima do Fortaleza, atual campeão brasileiro. Porém, o título da matéria do O POVO, e até mesmo o início do texto, chama atenção e destaca a derrota do tricolor, em vez de destacar a conquista da equipe campeã. Reclamo isso, primeiramente, porque achei meio sem sentido a matéria destacar o Fortaleza diante da grandiosidade da conquista de um título da outra equipe cearense. E segundo porque nós, cearenses, costumamos criticar a imprensa do Sul e Sudeste quando eles favorecem, nas matérias, os times do eixo. Ou seja, não podemos mais reclamar? A equipe campeã, o São João do Jaguaribe, não merece o mérito? Ou faltou critério e consciência, jornalística ou social, neste caso? Sugiro que o jornal faça matérias ressaltando equipes que, com muito sacrifício, levam na raça dos seus dirigentes o esporte local com repercussão estadual".

Por fim, um leitor faz ligação entre a matéria que abriu a edição de Esportes do dia e a outra sobre o time do Interior: "O jornal dá um super destaque ao fato de o João Ricardo ter ficado de fora da seleção de melhores da Série A 2024, aí você passa as páginas do caderno de Esportes e vê uma matéria mínima sobre a partida de futsal que minimiza a relevância do São João do Jaguaribe, diante do Fortaleza. A do impresso está menos ruim e complicada que a do portal, que exalta o Fortaleza. Tamanha contradição".

Perguntado sobre o fato, o editor-chefe de Esportes, André Bloc, considerou as sugestões dadas: "Concordo com os leitores. A gente também é vítima de viés e não conseguimos adaptar o texto (o resultado foi uma surpresa) a tempo. Conversei com a equipe sobre o assunto e vamos tentar aprofundar o tema, mostrando melhor o projeto do São João do Jaguaribe — que é até interessante por vir de um município muito marcado pela violência. Agradeço a contribuição dos leitores".

A propósito do que foi citado por Bloc, o município de São João do Jaguaribe, localizado a 221,6 quilômetros de Fortaleza, ganhou notoriedade pelo fato de entre os anos de 2019 e 2021 ter sido a cidade brasileira com maior taxa média de mortes violentas intencionais, segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

Em suma, os CEPs ainda pesam - seja em Esportes, seja em Economia - e, por vezes, acaba por ser omitido ou injustiçado de forma automática.

O retorno da Capricho

Arrisco afirmar ser difícil encontrar um adulto de mais de 40 anos de idade que não tenha folheado ou colecionado alguma edição da revista Capricho, sucesso entre adolescentes nas décadas de 1990 e anos 2000. Um material repleto de notícias sobre celebridades, moda, maquiagem, testes e outros assuntos voltados ao universo "teen".

A última edição impressa foi veiculada em 2015 e na última quinta-feira, 12, a Editora Abril anunciou o seu retorno. A reestreia ocorreu na sexta-feira, 13, e de acordo com a editora, a publicação estará disponível nas bancas de todo o País, entretanto o próximo número está previsto para ser lançado somente em julho do ano que vem.

No mínimo, interessante observar tal retorno, ainda mais se tratando de um conteúdo voltado para um público majoritariamente adolescente, tão apontado como dependente e focado em plataformas digitais.

A novidade faz lembrar outro fenômeno que pode ser observado em crianças menores, na faixa dos oito anos de idade, encantadas com as cartas impressas do personagem Pokémon, ou - ainda - os álbuns de figurinhas lançados em períodos de campeonatos brasileiros de futebol e/ou Copa do Mundo.

Algo a ser observado e considerado em um momento em que os materiais impressos são tão fadados ao fracasso. Será mesmo?

 

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