
Juliana Diniz é doutora em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC). É editora do site bemdito.jor
Juliana Diniz é doutora em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC). É editora do site bemdito.jor
O voluntarismo da política americana, personificado na figura de um presidente irracional e volúvel, tem sido tema desta coluna há algumas semanas. Nosso objetivo foi propor uma reflexão sobre a incompatibilidade entre Estado de Direito e incerteza quanto ao futuro: a democracia exige previsibilidade legal. Precisamos reconhecer, contudo, que esse voluntarismo, em geral maléfico para qualquer gestão, acabou por oferecer uma chance única de recuperação ao presidente Lula e ao seu governo.
Os números não vinham sendo favoráveis ao petista. Com os índices de aprovação em tendência consistente de queda e um Congresso Nacional cada vez mais hostil e pouco cooperativo, testemunhávamos um governo que parecia se encaminhar para um fim triste, despotencializado e ameaçado pela hipertrofia do Parlamento.
Tudo mudou, de forma inesperada, quando um deputado federal licenciado, radicado nos EUA e obstinadamente dedicado a salvar a própria família por intermédio da pressão americana, ofereceu a chance perfeita para que o governo se realinhasse com a opinião pública e recuperasse sua função executiva.
Ao impor tarifas sancionatórias ao Brasil sob o pretexto de salvar Bolsonaro, Trump expôs didaticamente à nação uma constatação já bem assimilada por quem acompanha a política nacional de perto: Bolsonaro e filhos são uma ameaça à saúde política e econômica do país. Por isso, a mudança nos índices de Lula e de seu governo foi imediata, sinalizando uma recuperação importante. O futuro das eleições de 2026 parece, mais uma vez, em aberto.
Esse episódio nos lembra o quanto a política é mobilizada por algo que os gregos clássicos e os renascentistas chamavam de "fortuna": a força imponderável do acaso, a boa ou má sorte que chega ao governante como imprevisto. Segundo Maquiavel, é justamente a inteligência para lidar com a má fortuna que distingue o governante virtuoso daquele condenado ao insucesso. É a capacidade de encontrar oportunidade no revés que revela a habilidade de uma liderança política.
Com esse ensinamento em mente, podemos avaliar, criticamente, as atitudes dos dois nomes que, no cenário de hoje, devem chegar às urnas no ano que vem: Lula e Tarcísio de Freitas. Enquanto o presidente em exercício aproveita bem o momento para recuperar o capital político do cargo que ocupa, o governador paulista cometeu, em poucas horas, uma sucessão de erros muito básicos que desagradaram sua base mais importante: o empresariado de São Paulo.
Como a crise com os EUA vai se desdobrar, não se pode prever, porque a fortuna é uma deusa voluntariosa. Só podemos torcer para que a economia brasileira seja libertada o quanto antes do sequestro absurdo promovido por uma família de réus.
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