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Contra a desinformação, não há descanso
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Juliana Matos Brito é formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Trabalha no O POVO há 20 anos. Atuou como repórter e editora do núcleo Cotidiano, que reunia as áreas de Ceará, Fortaleza, Ciência & Saúde e Esportes. Também foi editora de Audiência e Convergência do Grupo de Comunicação O POVO e editora-executiva do Digital e da editoria de Cidades. Tem especialização em Jornalismo Científico e é mestranda em Ciências da Informação, ambos pela UFC.

Contra a desinformação, não há descanso

Tipo Opinião

Em tempos de pandemia e de fakenews, a função do jornalismo de apurar, checar, analisar e levar ao leitor informações corretas é imprescindível. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a pandemia de Covid-19 vem acompanhada de uma infodemia - que significa "excesso de informações, algumas precisas e outras não, que tornam difícil encontrar fontes idôneas e orientações confiáveis quando se precisa". Nesse cenário, somos nós a fonte principal de informação. Não podemos descansar. É nosso dever trabalhar dia e noite contra a desinformação.

Para combater mais esse grave problema, O POVO foi um dos primeiros associados ao Projeto Comprova, de checagem de notícias, e vem trazendo informações importantes ao leitor, como a publicada na última sexta-feira sobre um vídeo manipulado acerca de uma entrevista do presidente da Anvisa. Para encontrar a lista de checagens feita pelo O POVO dentro do Projeto Comprova, basta acessar www.opovo.com.br/noticias/checagemopovo/.

E quando tratamos de temas tão sensíveis quanto esse relacionado à pandemia e, agora, com mais restrições no Ceará e em Fortaleza, quando tratamos do crescimento de casos da Covid-19 e das questões relacionadas à economia, precisamos de mais cuidado ainda. Pois há uma batalha política em jogo também.

Mas não tivemos o devido cuidado na última quinta-feira. A editoria de Economia trouxe uma matéria sobre uma pesquisa encomendada pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Ceará (Abrasel) e titulou da seguinte forma: "Pesquisa revela menor infecção relacionada a bares e restaurantes". Logo no começo do texto continuava: "A pesquisa revela que a maioria das contaminações aconteceu em festas fora de casa e no transporte público". Ao pé da letra não há erro. A pesquisa indicava isso mesmo. Mas nosso papel é explicar, checar, ter um olhar crítico e levar a informação da forma mais precisa ao leitor. O que não ocorreu.

Olhar mais crítico para a pesquisa

O que a pesquisa da Abrasel, na verdade, revela é que as pessoas entrevistadas acreditam que há maior contaminação em festas e transportes públicos. Há uma grande diferença nisso. A pesquisa não revelou menor infecção relacionada a bares e restaurantes. Não sei nem se há como medir isso. E da forma como colocamos, levamos o leitor a pensar que há uma pesquisa que defina esse rastreamento de onde as pessoas mais de contaminam.

No comentário interno feito à Redação destaquei que o jornal poderia sim publicar as informações sobre a pesquisa, mas com um olhar mais crítico e informando que a consulta realizada pela Abrasel mostra um sentimento das pessoas que participaram do questionário, mas que não há como atestar que há menor infecção em bares e restaurantes no Ceará, como publicamos. Pelo menos não por esse material disponível. E que, por ser uma pesquisa da Abrasel, tem todo o interesse de preservar o seu espaço de atuação. Nosso dever era apresentar a pesquisa de uma forma mais crítica com todas as conjecturas do momento.

Nas redes sociais, nossos leitores também não perdoaram e muitos entraram na brincadeira. "Fonte: dono do Bar". "Esse título está errado! O correto seria 'Pesquisa revela que as pessoas contaminadas acham que restaurantes e bares são lugares com menor infecção'". "Agora com mais atenção a chamada do próprio jornal não está tão adequada. Talvez pudessem trocar para 'Revela que a maior parte dos entrevistados acredita terem sido contaminados em festas, fora de casa e no transporte público' é praticamente impossível que eles saibam onde foram contaminados". Mostra que nossos leitores também se incomodaram com a forma como demos o material.

Sobre a matéria, a editora-chefe de Economia, Adailma Mendes, explica que "realmente o título não foi exato e falhou em usar termo como certeza e não como opinião das pessoas". "A pesquisa em si tinha toda uma delicadeza por sabermos da fragilidade de sua captação. No entanto, existe muita polêmica desse setor com as restrições para combater a pandemia e vimos como válido expor a iniciativa do segmento, inclusive deixando à audiência a avaliação da consistência da pesquisa", detalha Adailma.

Leitos

Ainda em relação à pandemia do novo coronavírus, tenho cobrado à Redação, especificamente à editoria de Cotidiano, mais informações sobre a quantidade de leitos de UTI no Estado, para que a gente consiga fazer a comparação da real situação do pico da primeira onda, no primeiro semestre de 2020, e o que estamos vivendo agora, com mais leitos sendo inaugurados, mas sem os leitos do hospital de campanha construído no estádio do PV.

O editor-chefe de Cotidiano, Érico Firmo, destaca que chegamos a trazer esse comparativo em algumas matérias, mas que é um assunto que vale sempre aprofundar. E, sobre o hospital do PV, ele comenta: "Vale o debate. O que acho é que a cobrança não é por aqueles leitos específicos, mas por haver leitos".

 

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