
É doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Pesquisa agendas internacionais voltadas para as mulheres de países periféricos, representatividade feminina na política e história das mulheres. É autora do livro de contos
É doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Pesquisa agendas internacionais voltadas para as mulheres de países periféricos, representatividade feminina na política e história das mulheres. É autora do livro de contos
Já virou tradição no Brasil dedicar alguns meses a causas que afetam a saúde e o bem-estar social. Saímos recentemente do Agosto Lilás, mês dedicado à luta pela erradicação da violência contra as mulheres.
No mês corrente, as reflexões recaem sobre a saúde mental, o dia 10 de setembro é oficialmente o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio.
A importância da campanha é atestada quando analisamos os números de suicídio no Brasil, segundo as autoridades sanitárias, cerca de 14 mil brasileiros se suicidam todos os anos.
Diante desse dado, precisamos refletir com urgência acerca de novas formas de viver, nas quais a alteridade, a dignidade humana e a preservação do meio ambiente tenham centralidade.
Proponho isto pois, quando penso no suicídio e na morte, automaticamente lembro da vida, isso é problemático quando sabemos que a maioria da população apenas sobrevive.
Todavia, sobreviver não é viver. Os Titãs na música “Comida” já anunciavam “A gente não quer só comida, a gente quer bebida, diversão e arte.” Infelizmente, aqueles que não têm sequer comida — não pensam em diversão e arte, pois estão presos às necessidades básicas e vitais.
A aspereza da vida cotidiana mitiga a capacidade de sonhar e de criar o novo. É nesse flanco que a humanidade se esvai, e a brutalidade lapidada pela dor e pelo descaso ganha terreno.
Uma das manifestações mais explícitas da brutalidade humana na atualidade é o aumento da violência. Ontem, a edição do O POVO trazia na capa a notícia de que, em um mês, 501 pessoas são presas por praticar violência contra as mulheres.
No mesmo dia, li que a esposa do ex-primeiro-ministro do Nepal morreu queimada após ataques de manifestantes. Aqui e lá, a violência impera. No tempo presente, temos a maior vitrine da barbárie traduzida na guerra entre Israel e Palestina. A fome e o sofrimento de crianças são cortantes, e a sensação de impotência coletiva é esmagadora.
No cotidiano das grandes cidades brasileiras, a violência adquire o status de mercadoria, um espetáculo consumido em larga escala.
Diante desse quadro, é urgente e inescapável nos perguntar: onde e quando a humanidade se perdeu? Em qual esquina da vida passamos a enxergar a vida do outro como supérflua e descartável? Muitos foram condicionados a aceitar “comer o pão que o diabo amassou”, outros aprenderam a conviver com o sofrimento diário e aparentemente intransponível.
A criminalização da política é sintoma dessa sociedade doente e também efeito colateral de um individualismo exacerbado que paira sobre as relações sociais.
Para mim, o Setembro Amarelo — dedicado a pensar sobre o suicídio — é um momento de inflexão bifurcada: de um lado, penso sem julgamentos sobre os motivos que levam uma pessoa ao suicídio; de outro ângulo, avalio que setembro é também um bom momento para pensarmos sobre a vida que temos e a vida que merecemos e queremos ter.
Histórias. Opiniões. Fatos. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.