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Prevenir o suicídio exige mais do que falar, exige transformação social!
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Marília Barreira atua como psicóloga e psicopedagoga clínica de crianças, adolescentes, adultos e idosos, assim como consultora em Psicologia. Professora do Curso de Psicologia na Universidade de Fortaleza (Unifor). Experiência na área de Psicologia, com ênfase em Educação, Psicologia Clínica, Psicologia Social e Identidade de Gênero e Diversidade Sexual

Marília Barreira comportamento

Prevenir o suicídio exige mais do que falar, exige transformação social!

Passados dez anos, fica a pergunta: será que só debater o assunto é suficiente?
ParaTodosVerem: uma ilustração mostra duas mãos entrelaçadas, uma cinza e outra amarela, cercadas por girassóis em tons de amarelo e cinza (Foto: Carlus Campos/O POVO )
Foto: Carlus Campos/O POVO ParaTodosVerem: uma ilustração mostra duas mãos entrelaçadas, uma cinza e outra amarela, cercadas por girassóis em tons de amarelo e cinza

Setembro chegou e, com ele, o amarelo que colore prédios, ruas e campanhas de conscientização sobre o suicídio. Desde 2015, o Brasil aderiu oficialmente ao movimento Setembro Amarelo, com o objetivo de quebrar o silêncio em torno de um tema historicamente cercado de tabu: a morte autoinfligida.

A iniciativa trouxe ganhos inegáveis. Falar sobre suicídio deixou de ser visto como algo proibido, e muitas pessoas passaram a reconhecer que pedir ajuda é possível. Mas, passados dez anos, fica a pergunta: será que só debater o assunto é suficiente?

A ideia de que a prevenção ao suicídio pode se resumir a abrir o diálogo tem suas limitações. É verdade que conversar pode ajudar a salvar vidas, mas o contexto em que essas vidas se desenrolam não pode ser ignorado.

O sofrimento que leva alguém a pensar em tirar a própria vida não nasce no vazio: ele é alimentado por desigualdades sociais, racismo, LGBTfobia, violência de gênero, exclusão escolar e falta de acesso à saúde de qualidade. Quando esses fatores não entram no debate, corremos o risco de transformar o Setembro Amarelo em uma campanha simbólica, mas pouco eficaz para mudar realidades.

Outro ponto de atenção é que o discurso muitas vezes se concentra no indivíduo. Parece que a responsabilidade pelo suicídio é individual. Mas, como pedir ajuda quando não existem serviços de saúde mental suficientes no SUS?

Como se abrir em uma família que rejeita a identidade de gênero de um filho ou filha? Como confiar em instituições que, tantas vezes, reproduzem preconceitos? É aqui que percebemos que a prevenção do suicídio não se resume a conversas: exige transformação social.

Se quisermos, de fato, reduzir os índices alarmantes de suicídio no Brasil, precisamos de ações coletivas e políticas públicas efetivas.

Isso inclui investir em serviços de saúde mental acessíveis, formar profissionais preparados para lidar com a diversidade da população, fortalecer redes comunitárias de apoio e valorizar saberes que foram historicamente silenciados, como os de povos indígenas e comunidades afro-brasileiras.

Afinal, falar é necessário, mas viver em uma sociedade mais justa e inclusiva é o que realmente pode fazer a diferença.

Que o Setembro Amarelo seja, então, não apenas um mês de discursos, mas um convite para refletirmos sobre como estamos construindo (ou deixando de construir) um mundo em que viver valha a pena para todos.

Foto do Marília Barreira

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