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Fracasso das seleções dificulta popularização do basquete no Brasil
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Jornalista formada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Apaixonada por basquete, foi repórter do NBB em Fortaleza. Primeira mulher a comentar uma partida de futebol na TV cearense. Autora do livro A Verdadeira Regra do Impedimento, sobre a história do futebol feminino estadual

Fracasso das seleções dificulta popularização do basquete no Brasil

Pela segunda vez na história olímpica, o basquete brasileiro não conquistou vaga para os Jogos. Time masculino caiu em jogo decisivo diante da Alemanha

O basquete brasileiro não vai ser representado nas Olimpíadas de Tóquio, que começam no próximo dia 23 de julho. É apenas a segunda ocasião na história em que isso ocorre. A primeira vez foi em 1976, quando, simultaneamente, as modalidades feminina e masculina ficaram de fora dos Jogos realizados no Canadá. A modalidade 3x3, que passa a integrar as Olimpíadas na atual edição, também não terá um representante nacional em sua estreia.

Olimpíada: Brasil perde na final para a Alemanha e está fora de Tóquio
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Olimpíada: Brasil perde na final para a Alemanha e está fora de Tóquio

A confirmação da ausência veio no último domingo, com a derrota da equipe masculina diante da Alemanha, depois de três ótimas exibições, vencendo Tunísia, Croácia e México por, respectivamente, 26, 27 e 28 pontos de vantagem. O roteiro seguiu o padrão onde a torcida começa com receio, permite que a empolgação vença o medo e, no final, fica com a decepção e o sentimento de quem já sabia que isso iria acontecer.

Claro que falar em seleção implica, apenas, no topo de toda uma cadeia. E falar de selecionado em esportes que ainda buscam cada vez mais espaço, então, é sinônimo de um ciclo difícil de ser quebrado: as derrotas dificultam a popularização, que, por sua vez, atrasa o aporte de investimentos, que, então, acarreta novos fracassos, e assim por diante. Ainda que a decepção mais recente da seleção masculina pudesse (talvez) ter sido evitada com algumas decisões diferentes da comissão técnica durante a partida, é nítido que não se pode melhorar uma estrutura que necessita de incentivo e suporte no desenvolvimento de novos atletas, por exemplo, olhando para seu estágio “de excelência”. Fase que ainda busca, inclusive, superar o péssimo lastro da gestão Carlos Nunes na CBB, e chegou ao ápice de ser banido temporariamente de competições da FIBA em 2016, após, entre outras razões, desistência de torneios de base e desorganização das eleições do órgão.

O principal exemplo de quando se fala sobre êxito da seleção e projeção da sociedade é, claro, o futebol. O conceito de “País do futebol” foi construído em torno da seleção, com as conquistas quase consecutivas nas Copas de 1958, 62 e, principalmente, 70, em meio ao ufanismo defendido pela Ditadura Militar. Vale ressaltar que não comparo, aqui, o alcance do futebol com o do basquete em território brasileiro, nem falo que essa é a única razão pelo qual o futebol (tão acessível e fácil de ser praticado) tem o mercado de hoje no país, mas destaco a forma como a combinação de mídia e sucesso da seleção contribuiu para a formação de uma identidade nacional. A ideia de uma seleção vencedora traz a superioridade que, em outras áreas “sociais”, o Brasil não seria capaz de alcançar no cenário geopolítico.

Mesmo saindo do esporte mais popular do país, podemos ver o exemplo do vôlei. Levando em conta as últimas quatro Olimpíadas, foram somadas quatro medalhas de ouro — duas no feminino, em 2008 e 2012, e duas no masculino, em 2004 e 2016, sendo a última “em casa”, nos Jogos do Rio de Janeiro. A Superliga nacional está estabilizada e tem bom público. Os bons resultados e a posição relevante do vôlei brasileiro no mundo já fez, inclusive, a torcida levar para grandes competições faixas que atestavam: “O futebol é paixão nacional, o vôlei é orgulho”.

Ainda que, como citado na coluna de duas semanas atrás, a NBA, o NBB e as ligas femininas estejam buscando diversificar as transmissões por internet e TV aberta para ampliar o engajamento, o basquete nacional precisa, mais do que nunca, voltar a crescer como seleção. O início do novo ciclo olímpico para Paris-2024 em meio à iminente renovação (capitaneada por nomes como Yago, Didi e o já experiente mas ainda jovem Bruno Caboclo) é mais uma chance oferecida para a equipe, embora até mesmo essa frase já esteja quase caindo no clichê de tão frequente.

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