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Kareem Abdul-Jabbar mostra a coerência que parece faltar nos atuais astros da NBA
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Jornalista formada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Apaixonada por basquete, foi repórter do NBB em Fortaleza. Primeira mulher a comentar uma partida de futebol na TV cearense. Autora do livro A Verdadeira Regra do Impedimento, sobre a história do futebol feminino estadual

Kareem Abdul-Jabbar mostra a coerência que parece faltar nos atuais astros da NBA

Ex-pivô mais uma vez mostra que é tão grande fora quanto foi dentro das quadras ao criticar o hipócrita discurso em defesa de "liberdades individuais" de craques da NBA sobre vacinação
Kareem Abdul-Jabbar, maior cestinha da história da NBA e uma das vozes mais sensatas do esporte (Foto: Alberto E. Rodriguez / AFP)
Foto: Alberto E. Rodriguez / AFP Kareem Abdul-Jabbar, maior cestinha da história da NBA e uma das vozes mais sensatas do esporte

Na coluna da última semana, citei como alguns jogadores da NBA, mesmo vacinados, seguiam o discurso de "vacinação é escolha individual", favorecendo nomes como Andrew Wiggins — que buscou a imunização, apesar de relutante, após a divulgação das rígidas regras para não vacinados na liga — e Kyrie Irving. Enquanto astros e campeões da atualidade como LeBron James e Draymond Green endossam essa crença, o ex-pivô Kareem Abdul-Jabbar não mediu palavras para criticar a ação.

"Superficialmente, parece que Draymond e LeBron estão defendendo o ideal americano de liberdade de escolha individual. Mas eles não oferecem argumentos para apoiá-lo, nem definem os limites de quando a escolha de uma pessoa é prejudicial para a comunidade. Eles estão apenas gritando: 'Eu sou pela liberdade'. Somos todos pela liberdade, mas não às custas dos outros", declarou Kareem, em artigo publicado pelo portal norte-americano Substack.

Abdul-Jabbar aparece em qualquer lista que tenha o objetivo de citar os grandes jogadores da história da NBA, sendo o maior pontuador da liga e recordista, também, em prêmios de MVP, com seis, ao total. Apesar do currículo que dispensa quaisquer apresentações, Kareem também não poderia deixar de ser lembrado como uma voz ativa nas pautas sociais presentes na NBA.

O camisa 33 não esperou a fama para defender seus ideais. Antes mesmo de entrar na NBA, ainda como Lew Alcindor (Kareem Abdul-Jabbar foi o nome adotado por ele após a conversão ao islamismo), o pivô boicotou os Jogos Olímpicos de 1968 em virtude da diferença de tratamento entre negros e brancos nos Estados Unidos. Quando, na mesma época, Muhammad Ali recusou o alistamento no exército americano e, por consequência, lutar na Guerra do Vietnã, Kareem também estava ao seu lado.

Obviamente, Abdul-Jabbar construiu um respeito que respalda sua posição ao bater de frente com um astro atual como LeBron. Mas, tão óbvio quanto, é que isso não deveria ser requisito para que um atleta contemporâneo possa - ou queira - criticar uma fala cientificamente equivocada de LeBron.

O único que ousou desaprovar nominalmente as ações de LeBron James foi outro pivô que segue bem a trilha formada por Kareem: o turco Enes Kanter. "Fiquei muito desapontado. É ridículo. LeBron James é um dos rostos da Liga e deveria ser o primeiro a ir lá e encorajar todos a tomar a vacina". Mais do que defensor da campanha de vacinação, Kanter, inclusive, é perseguido politicamente e se posiciona com frequência contra o governo ditatorial de Erdogan, o que o impede de visitar a família na Turquia. Apesar das trajetórias bem diferentes dentro das quadras e das décadas que separam a atuação dos dois, Kareem e Kanter são vozes importantes na NBA, e fazem o seu papel ao lembrar que os atuais astros precisam parar de deturpar (ou mesmo ignorar) o conceito de "liberdade individual" defendido pelo movimento antivacina.

 

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