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Professor-doutor-bailarino-pescador Flávio Sampaio
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Magela Lima é jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro (Uni7), doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Magela Lima opinião

Professor-doutor-bailarino-pescador Flávio Sampaio

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Tipo Opinião
A turma do Curso Básico de Longa Duração em Dança do Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ) apresenta nesta quinta-feira, 17, o espetáculo
Foto: Mar Pereira/Divulgação A turma do Curso Básico de Longa Duração em Dança do Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ) apresenta nesta quinta-feira, 17, o espetáculo "Volúvel"

Quarta-feira, 15 de outubro de 2025: mais um dia memorável para o Ceará e sua Universidade Federal. É doutor, doutor honoris causa, o professor-bailarino-pescador Flávio Sampaio. Aos 71 anos, o menino de Paracuru vai dançar de agora em diante em parelha com um título que sublinha sua trajetória.

Flávio é o primeiro artista da dança a receber a outorga da UFC e entra para um grupo do qual fazem parte nomes como Aldemir Martins, Descartes Gadelha, Rodolfo Teófilo, Rachel de Queiroz, Gerardo Mello Mourão, Ana Miranda, Eleazar de Carvalho e B. de Paiva.

O inusitado da vida fez de Flávio Sampaio um herói, um gigante. De uma ousadia rara, ele transformou uma coleção de nãos em sins absolutos. Dança não era coisa para homem. Dança não era coisa para pobre. Dança não era coisa para cearense.

Nada disso o impediu de começar a dançar já de bigode, de brigar por um lugar na turma de Dennis Gray e Jane Blauth na pioneira Escola de Dança do Sesi da Barra do Ceará, nem de, muito menos, se tornar um artista internacional, com passagem pela Escola do Balé Bolshoi em Joinville, única filial fora de Moscou.

Flávio Sampaio é representante de uma geração que firmou o Ceará no mundo da dança cênica, como gosta de dizer Rosa Primo, fazendo lembrar que, na verdade, existe um sem-fim de outras danças.

Ele emprestou seu talento a importantes corpos de baile no Brasil e no exterior, assumiu a missão de ensinar e logo ocupou-se de atividades ligadas à gestão. O mais importante, porém, é que Flávio Sampaio revelou-se um avesso do cearense e fez o caminho de volta para casa.

Com uma biografia que emenda um grande feito atrás do outro, ele escolheu o Ceará - em especial, sua Paracuru - como cenário para os capítulos principais. Flávio Sampaio foi (e ainda é) o coração do extinto Colégio de Dança do Ceará, criado em 1998, e da Escola de Dança de Paracuru, fundada em 2003. Com essas iniciativas, primas-irmãs, ele multiplicou a aptidão dos nossos corpos para a cena e transformou sonhos em realidade. Se o Ceará dança o que dança e como dança, é porque Flávio Sampaio quis, um dia e sempre, dançar.

O título recebido pela UFC é como que um aplauso, um imenso e definitivo aplauso, ao artista. Mais que poesia, a verdade é que Flávio Sampaio produziu conhecimento. É justa, pois, e até tardia, a deferência que a academia lhe confere.

A obra e a carreira de Flávio Sampaio condensam histórias, técnicas, poéticas, metodologias e, sobretudo, afetos capazes de transformar aprendizados, formar e informar as danças e o pensamento das danças de agora e de amanhã. Flávio Sampaio é um patrimônio da cultura do Ceará. Agora doutor, que o Ceará saiba lhe agradecer e retribuir tudo e tanto que ele nos deu.

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