Marília Lovatel cursou Letras na Universidade Estadual do Ceará e é mestre em Literatura pela Universidade Federal do Ceará. É escritora, redatora publicitária e professora. É cronista em O Povo Mais (OP+), mantendo uma coluna publicada aos domingos. Membro da Academia Fortalezense de Letras, integrou duas vezes o Catálogo de Bolonha e o PNLD Literário. Foi finalista do Prêmio Jabuti 2017 e do Prêmio da Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil – AEILIJ 2024. Venceu a 20ª Edição do Prêmio Nacional Barco a Vapor de Literatura Infantil e Juvenil - 2024.
Os motivos para tão pouco aparecer vão da timidez pura e simples ao receio de que os olhos revelassem seus pensamentos e escolhas. E, de todas as alternativas na vida, a sua decisão de ser a nossa mãe nos trouxe ao mundo
Foto: Divulgação / Lucas Henrique Lovatel Geia
Maria Ribeiro Lovatel
Há uma foto sua no álbum da minha memória. Um lenço de seda verde guarda os seus cabelos castanhos escuros. E grandes óculos de sol lhe escondem boa parte do rosto, assim como um sorriso hesitante oculta você da câmera. Essa é a imagem nos registros fotográficos realizados na época em que Flavinha e eu éramos crianças.
Os motivos para tão pouco aparecer vão da timidez pura e simples ao receio de que os olhos revelassem seus pensamentos e escolhas. E, de todas as alternativas na vida, a sua decisão de ser a nossa mãe nos trouxe ao mundo.
Por isso, neste domingo, Dia das Mães, em que me preparo para abraçá-la, após a sua temporada em Petrópolis, em que o voal da cortina deixa entrar no quarto um sol afetuoso, eu ajeito as almofadas na colcha de piquet cobrindo a cama e no encosto de palhinha da cadeira de balanço, borrifo no ar uma essência fresca, cítrica — que tanto lhe agrada —, e me flagro nos gestos de quem muitas vezes arrumou a casa para receber as filhas, desde o início.
Imagino o berço inaugurado na primeira chegada da maternidade. E, na segunda, uma irmã sendo apresentada à outra. Duas décadas depois, vieram os netos, cujos nascimentos não mudaram o desejo de fugir na hora de congelar a expressão. Eis, então, que, aos 92 anos, um vídeo captura o que nenhuma máquina antes conseguiu obter: a suavidade do olhar e do sorriso, as pétalas amarelas oferecidas concedem a permissão para que sejam revelados os pensamentos e conhecidas as suas escolhas.
Por elas agradecemos. Nelas estamos nós. E a cor dos seus cabelos que os meus imitaram. E a jovialidade de que minha irmã é herdeira. Um frame apenas foi suficiente para expor a sua alma, coisa mais linda de ver, porque é alma de mãe em singeleza de flor do campo.
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