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Escultor da memória
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Marília Lovatel cursou Letras na Universidade Estadual do Ceará e é mestre em Literatura pela Universidade Federal do Ceará. É escritora, redatora publicitária e professora. É cronista em O Povo Mais (OP+), mantendo uma coluna publicada aos domingos. Membro da Academia Fortalezense de Letras, integrou duas vezes o Catálogo de Bolonha e o PNLD Literário. Foi finalista do Prêmio Jabuti 2017 e do Prêmio da Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil – AEILIJ 2024. Venceu a 20ª Edição do Prêmio Nacional Barco a Vapor de Literatura Infantil e Juvenil - 2024.

Escultor da memória

Colecionador de objetos raros, de imagens preciosas, dos sons das eras que nos antecedem, Miguel Ângelo de Azevedo, o irmão de Sânzio de Azevedo, o nosso Nirez, é cronista sem usar as palavras, é um Michelangelo cearense
Miguel Ângelo de Azevedo, conhecido nacionalmente por Nirez (Foto: Site/mapacultural.secult.ce)
Foto: Site/mapacultural.secult.ce Miguel Ângelo de Azevedo, conhecido nacionalmente por Nirez

A Academia Fortalezense de Letras comemorou os seus 23 anos com uma conversa-não-palestra, assim nos definiu Nirez, na abertura de sua fala. Na realidade, o convidado foi o nosso maior presente. Ele, a personificação da memória de Fortaleza.

Com a tranquilidade despretensiosa de quem domina o que representa e com o entusiasmo de um guardião da nossa história, ele não leu para a plateia atenta nenhuma linha previamente escrita.

Optou por apresentar uma sequência de fotos, acionou a máquina do tempo, e foi conduzindo a audiência, feito o flautista da fábula, à Capital guardada nas recordações distantes dos indignados, com razão, diante do apagamento do passado. Estátuas mudadas de lugar, edificações demolidas, homenagens revogadas pela alteração dos nomes de ruas e de praças.

Terminados os comentários sobre as imagens, o arquivo vivo deu início a outra seleção, desta vez, musical. Os ouvidos receberam as canções, e os sorrisos de reconhecimento longínquo se abriram.

Foi bonito de se ouvir e de se ver. Saí daquele ambiente mais leve do que entrei, apesar do acréscimo cultural — doce paradoxo. Lamentei que outros compromissos me roubassem a oportunidade de ficar após a não palestra, dessas que nos fazem esquecer do relógio e desejar maior duração.

Colecionador de objetos raros, de imagens preciosas, dos sons das eras que nos antecedem, Miguel Ângelo de Azevedo, o irmão de Sânzio de Azevedo, o nosso Nirez, é cronista sem usar as palavras, é um Michelangelo cearense, esculpindo e pintando na matéria abandonada de quem fomos o patrimônio a revelar o que somos. Por meio de seu acervo, uma Fortaleza eterna vive.

Foto do Marília Lovatel

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