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Os desafios da IA e o moranguinho do amor
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Marília Lovatel cursou Letras na Universidade Estadual do Ceará e é mestre em Literatura pela Universidade Federal do Ceará. É escritora, redatora publicitária e professora. É cronista em O Povo Mais (OP+), mantendo uma coluna publicada aos domingos. Membro da Academia Fortalezense de Letras, integrou duas vezes o Catálogo de Bolonha e o PNLD Literário. Foi finalista do Prêmio Jabuti 2017 e do Prêmio da Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil – AEILIJ 2024. Venceu a 20ª Edição do Prêmio Nacional Barco a Vapor de Literatura Infantil e Juvenil - 2024.

Os desafios da IA e o moranguinho do amor

Para o bem e para o mal, a atuação das máquinas é parte do nosso cotidiano. Resta-nos o discernimento para boas escolhas
Morango do amor (Foto: João Filho Tavares)
Foto: João Filho Tavares Morango do amor

No intervalo de poucos dias, fui surpreendida três vezes com o assunto inteligência artificial (IA) . Primeiro soube que a Kotter anunciou o cancelamento da edição de 2025 de seu prêmio, após detectar 900 obras inscritas com claros indícios de autoria por IA.

Os textos causaram estranheza por conterem perfeição técnica anômala: gramática impecável e falta de profundidade, estrutura previsível sem variações estilísticas e marcas do uso da ferramenta, como a inserção de comentários automáticos.

A organização do concurso destacou que “a escrita humana tem imperfeições e saltos criativos que a IA ainda não reproduz com autenticidade” — respirei aliviada — e acrescentou que “prêmios literários precisam celebrar a criação humana”, o que me faz lembrar da segunda surpresa referente ao tema em um período tão curto.

Trata-se da reportagem da GloboNews sobre o tour guiado em Amsterdã, que conduz os visitantes a pontos da trajetória de Anne Frank.

Com fones e celular, é possível ouvir informações, ver imagens, assistir a vídeos e a animações incríveis. Nesse caso, não há dúvida sobre a contribuição da tecnologia a serviço da História.

A terceira descoberta foi bem mais trivial: ser apresentada, na volta das férias, ao “morango do amor”, a gulodice do momento.

Um colega trouxe dois em uma caixa para a agência publicitária onde trabalhamos e se divertiu com o meu olhar curioso, hipnotizado com aquela versão da maçã do amor, delícia tradicional em espetáculos circenses, parques de diversão, feiras e quermesses.

Sem coincidência, bastaram breves falas entre nós e o meu celular exibiu matérias e ofertas de venda relativas à iguaria — resultado da captura sonora, que gerou o algoritmo.

Para o bem e para o mal, a atuação das máquinas é parte do nosso cotidiano. Resta-nos o discernimento para boas escolhas. Estando, por exemplo, em Amsterdã, cultuar a memória de Anne Frank do modo mais inovador.

E, enquanto escrevo esta crônica sem incomodar o ChatGPT, ceder à propaganda da loja que diz “cada mordida é uma experiência decadente que promete levar seus sentidos a uma jornada de puro prazer” e enfiar os dentes no vermelho brilhante vitrificado de um moranguinho do amor.

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