Cantora, compositora, jornalista. Lançou sete CDs (Mona Gadelha, Cenas & Dramas, Tudo se Move, Salve a Beleza, Praia Lírica - um tributo à canção cearense dos anos 70 e Cidade Blues Rock nas Ruas); o EP Tudo se Move 20 Anos Depois e vários singles. Fez Comunicação Social na Universidade Federal do Ceará. É mestra em Comunicação (PPGCOM). Lançou o livro "Perfume Azul - Transgressão e Rock na Fortaleza dos Anos 70" (Edição FWA)
Foto: Sabtina Nascimento
Davinci é cantor, compositor, músico, saxofonista, rapper e arte-educador
Há artistas que escrevem sua arte a partir de sua origem: a rua onde nasceu e morou, a comunidade que lhe confere identidade e lhe ensina a resistir. Foi assim com Davinci, ou Preto Davinci. Nascido na Barra do Ceará, na Travessa Vinte de Janeiro (não na avenida de mesmo nome, no beco), assim se tornou conhecido o artista “da Vinte”, o Davinci, cantor, compositor, músico, saxofonista, rapper e arte-educador, que lança seu primeiro álbum nas plataformas.
Conheci Davinci no Laboratório de Música da Escola Porto Iracema, onde a sua curiosidade e o gosto pela pesquisa logo me chamaram a atenção. Na época, 2023, ele fazia parte do AfroKaos (com Dinho K7 e Durango, recebendo tutoria do músico e produtor Felipe Fiuza).
Dois anos depois ele parte para seu projeto solo, cantando, compondo, tocando e produzindo. Pois aquele rapaz ligado em jazz e hip hop, fã de John Coltrane (não à toa uma das faixas se chama Macumbeiro Coltrane), e apaixonado também pelos sons afro-indígenas, inserido no movimento afrofuturista, chegou com o seu “Dominante das Ruas”, cujo título já entrega de onde vem sua musicalidade.
A música de Preto Davinci emana dos becos, terreiros e ruas. O álbum tem sete músicas - combinando tudo o que se pode chamar de cultura urbana. Em seu projeto afrofuturista, Davinci quer criar experiência artística para transformar esses lugares em paisagens sonoras. Mesmo que se volte para o futuro, ele sabe bem como lidar com a arte como resistência, identidade e liberdade.
Foto: Divulgação / Dominante das ruas
Capa do álbum Dominantes das ruas
Gravado, mixado e masterizado por Davinci no Abrigo Plataforma, com a consultoria e participação de seu colaborador constante, o multiartista Eric Barbosa e os convidados Nego Gallo, Adriel Rodrigues, Riquelme Alves, Eduardo Madeira e Mãe Bia de Pombogira(que faz narrações, assim como Klemente Tsamba, artista moçambicano). A capa do disco é uma criação de Diego Maia, com fotografia documental de Gandhi Guimarães e Ozeias Araújo.
Já na abertura do álbum, na “Introdução Leste”, ele apresenta a cidade e pede a bênção da mãe de santo Mãe Bia. Em outra música, criada por Davinci em parceria com Riquelme Alves, “Macumbeiro Coltrane”, a presença do “jazz espiritual”, seguindo-se às faixas Pivete Divino, com beat concebido por ele, com as guitarras e percussões de Eric Barbosa.
Em Dominante das Ruas, a sequência apresenta a saudação de Davinci como artista, com narrações de Seu Toin, morador da Barra do Ceará; Kalil Lion, Zenaide Nascimento e Pai Ricardo de Xangô.“Dominante das ruas /atravessando a Leste-Oeste/no pipôco da bala…” diz ele, em narrativas com amplas citações da Fortaleza urbana, da Barra do Ceará à Praia de Iracema, e a memória da eleição de Maria Luiza Fontenele há 40 anos.
E por quê “dominante”? Na música de Davinci essa palavra significa “a força ancestral que sustenta e conduz a vida na periferia”. Da travessa 20 de Janeiro, ele conseguiu reunir em seu álbum artistas e religiosos, mesclando referências, sem deixar de lançar mão de outras linguagens em que atua, como o audiovisual e a produção técnica.
Ele quis trazer para o trabalho a influência do álbum Space Is the Place, da Arkestra de Sun Ra, criando nos shows de lançamento do Dominante uma grande imersão sonora. Jazz com macumba, improviso e hip hop, da perspectiva periférica de Fortaleza e sotaque cearense.
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