A agonia do rio Jaguaribe, afiada por Nelso Faheina
Jornalista, colunista de Economia da rádio O POVO/CBN; Coordenador de Projetos Especiais do Grupo O POVO DE COMUNICAÇÃO; Co-Autor do livro '50 Anos de Desenvolvimento Industrial do Ceará' e autor dos 'Diálogos Empresariais', dois livros reunindo depoimentos de líderes empreendedores do Estado do Ceará
A agonia do rio Jaguaribe, afiada por Nelso Faheina
A morte do Jaguaribe, que nasce em Tauá, abastece os dois maiores reservatórios do Ceará e ruma em direção a Aracati onde sua foz é uma fonte natural de belezas, numa extensão de 600 quilômetros, não transcorre sozinha
O rio Jaguaribe está em sua derradeira agonia. A frase é de um jaguaribano, Nelson Faheina, meu amigo e um admirado repórter de TV. Ele desespera em uma ligação telefônica de Limoeiro do Norte, onde mora, com a voz de quem se sente impotente. A cada dia, narra ele, o leito seco do rio símbolo do Ceará se transforma em imensas crateras de onde construtoras retiram areia, mata de caatinga e marmeleiro, ocupação de sem-tetos e lixo. Muito lixo, em toda extensão urbana do médio Jaguaribe.
O desprezo pelo manancial de outrora, símbolo de resistência do cearense, de águas valentes a inundar em grandes invernos suas cidades ribeirinhas, sofre a miserável vingança dos habitantes outrora desabrigados pelas enxurradas, dos prefeitos estúpidos, e do capital investidor do agronegócio que o consumiu até a última gota com grandes pivôs de irrigação. Ainda que valente, o frágil rio de águas efêmeras não aguentou.
Nelson segue na sua narrativa: venha ver para acreditar, meu amigo! Venha ver o alegre rio onde você tibungou nas nossas férias e nos projetos do Seminário Empreender. Agora é só poeira.
Esse imenso crime ambiental passa incólume aos olhos do poder público, das lideranças rurais, dos gestores ambientais e até mesmo da imprensa. Como não me atinge, que morra! - na expressão de indiferença bem brasileira. Enquanto ainda moribundo, pesquisadores da Cogerh e Uece finalmente descobrem onde fica a nascente do rio Jaguaribe.
Seu atestado de nascimento estava errado, não era a serra da Joaninha, em Tauá, e sim em outro berço: a serra das Pipocas, entre Tauá e Pedra Branca. Como um rio poderia sobreviver sem se conhecer a sua nascente, para preservá-la contra o inevitável desmatamento?
A morte do Jaguaribe, que nasce em Tauá, abastece os dois maiores reservatórios do Ceará e ruma em direção a Aracati onde sua foz é uma fonte natural de belezas, numa extensão de 600 quilômetros, não transcorre sozinha.
Com ela arrastam-se para o mesmo destino rios afluentes, os regatos e pequenos mananciais que, no inverno, abrem o sorriso do sertanejo e avolumam o grande rio e seus reservatórios, resgatando a pesca e tranquilizando a pecuária.
Essa notícia-crônica me emputece por uma razão: sou infelizmente romântico e de raízes sertanejas, de infância com baladeira, cavalgadas, galinha à cabidela e água de pote. O próprio sertanejo "digital" não está nem aí com a desertificação do seu entorno; o importante é a água da torneira sem importar de onde vem. Os de "coração mole" como eu e Nelson Faheina quem sabe façam alguma coisa para não deixar o Jaguaribe sair do mapa como rio. Sua importância continua imensa para as gerações do nosso amanhã.
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