
Neila Fontenele é editora-chefe e colunista do caderno Ciência & Saúde do O POVO. A jornalista também comanda um programa na rádio O POVO CBN, que vai ao ar durante os sábados e também leva o nome do caderno
Neila Fontenele é editora-chefe e colunista do caderno Ciência & Saúde do O POVO. A jornalista também comanda um programa na rádio O POVO CBN, que vai ao ar durante os sábados e também leva o nome do caderno
Em algum momento você já teve a sensação de que, por mais que faça, nunca é o suficiente? Se sim, você não está sozinho. Esse sentimento diz muito sobre o momento atual.
A cobrança por resultados imediatos, a pressão por alta performance e a avalanche de tarefas têm agravado os problemas de estresse e de adoecimento nas empresas. A corrida pela produtividade está custando caro. E o pior: o impacto mais grave nem sempre é visível de imediato, gerando impacto no número de licenças por adoecimento mental.
Os números escancaram o problema. Segundo dados do Ministério da Previdência Social, só em 2024, a quantidade de licenças médicas por transtornos mentais cresceu 68% em relação ao ano anterior. São mais de 472 mil afastamentos — um número que, por si só, já diz muito sobre como estamos lidando (ou não lidando) com o estresse e a pressão.
Uma pesquisa da Zenklub, plataforma de saúde emocional da Conexa, reforça essa realidade: 52% dos profissionais brasileiros se sentem sobrecarregados e sem apoio suficiente para enfrentar a rotina pesada do trabalho. Já o estudo Tendências de Benefícios para Funcionários (2025) mostra que 49% dos entrevistados estão mais estressados do que nunca. Estamos falando de burnout, ansiedade, esgotamento. Mais do que termos clínicos, estamos falando de pessoas que estão tentando dar conta de tudo e não estão conseguindo.
As empresas precisam entrar na conversa. Com a entrada em vigor da nova Norma Regulamentadora NR-01, que obriga as empresas a promoverem ambientes de trabalho mais saudáveis, a saúde mental deixa de ser apenas uma pauta de RH para se tornar uma responsabilidade real, legal e ética.
Para Rui Brandão, vice-presidente de Saúde Mental da Conexa, a virada de chave começa pelo reconhecimento dos fatores de riscos psicossociais. “As empresas precisam entender que produtividade sustentável só é possível com pessoas saudáveis. Investir em saúde mental não é mais um diferencial, passou a ser uma necessidade estratégica”, afirma.
Na avaliação do médico e cofundador do Zenklub, o Ministério do Trabalho exige agora mais condutas para a redução dos riscos psicossociais. “Estamos vendo o adoecimento e começamos a falar mais sobre o assunto. Para ajudar as pessoas, as empresas devem atuar de forma preventiva. É preciso mais capacitação”, acrescenta.
Está mais do que na hora de repensar o modelo de trabalho que estamos alimentando. Isso não significa abrir mão de resultados, mas a construção de caminhos mais humanos. Isso passa pela criação de ambientes com segurança psicológica; espaços para escuta e acolhimento; líderes capacitados para identificar sinais de estresse e políticas reais de equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
Além dessas estratégias, os gestores precisam se capacitar e montar equipes com psicólogos e outros profissionais para avaliar os fatores de risco. Isso, muitas vezes, talvez signifique mexer na cultura das organizações. Ou seja: no estabelecimento de uma nova visão nas relações de trabalho, caso haja realmente o interesse de melhorar a situação de saúde das pessoas no ambiente corporativo.
A pesquisa “Sonhe Como uma Garota”, da ONG Think Olga, mapeou sonhos, aspirações e planos de mulheres de diferentes gerações. O estudo revelou que a carreira profissional está entre as principais ambições femininas. No caso das mulheres entre 18 e 29 anos, construir uma carreira sólida atingiu a marca de 53% das respostas. Com certeza, precisamos de melhores formas de acolher novos profissionais.
A saúde no centro da discussão. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.