É o(a) profissional cuja função é exclusivamente ouvir o leitor, ouvinte, internauta e o seguidor do Grupo de Comunicação O POVO, nas suas críticas, sugestões e comentários. Atualmente está no cargo o jornalista João Marcelo Sena, especialista em Política Internacional. Foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO e de Política
Não seria necessário que a reportagem em questão trouxesse um prontuário assinado pelos médicos de Lula atestando se ele está apto ou não para cumprir suas funções. Mas para colocar isso em dúvida é imprescindível que existam elementos fortes o suficiente para justificar os questionamentos, o que não ocorreu
Foto: PABLO PORCIUNCULA / AFP
Presidente Lula na reunião de cúpula dos Brics
Uma reportagem publicada no último domingo, 6, foi um dos conteúdos que mais gerou críticas de leitores em mensagens direcionadas ao ombudsman via e-mail e Whatsapp neste ano. A matéria com o título “Enfraquecido politicamente, impopular e com saúde frágil, Lula tentará reeleição?”, centralizou as insatisfações dos leitores, que se queixaram de um tratamento etarista dado pelo jornal ao presidente da República, que completará 79 anos em outubro próximo.
Há uma semana, quando a reportagem foi publicada, a querela entre o Palácio do Planalto e a cúpula do Congresso em torno das mudanças no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) dominava o debate político. Mais um embate entre os Poderes que parece até ter ocorrido num passado distante após o tarifaço que Donald Trump prometeu impor ao Brasil, assunto que tomou para si o protagonismo das manchetes nos últimos dias.
“Qual a motivação de tanto destaque numa matéria de duas páginas em que se faz um rebaixamento da imagem e do perfil político presidente, da sua capacidade física e mesmo intelectual (idade, cansaço, limitação na percepção da dinâmica política), sem considerar outros elementos significativos como o perfil rebaixado de um Congresso que mostra-se cada vez mais distante e irresponsável com o País e com as condições de vida e sobrevida de grande parte da população?”, questionou um leitor.
“A reportagem cai como uma luva para minar o governo justo na hora em que enfrenta uma luta dura contra o Congresso”, apontou um outro leitor. “Que matéria tendenciosa. Desde quando Lula está com saúde frágil? Todos os boletins médicos e exames falam de uma saúde ótima pra sua idade. Isso é um desserviço”, apontou um seguidor no Instagram do O POVO. “Saúde frágil? Baseado em que? Coloca na manchete, tem que desenvolver no texto. Idade não é doença, viu?”, alertou outro seguidor.
Esses últimos pontos levantados pelos seguidores identificam mais precisamente o problema central da reportagem em questão. Quanto à popularidade de Lula, a matéria tem gráficos que evidenciam uma piora dos índices de aprovação do presidente ao longo dos últimos meses, segundo três institutos de pesquisa. Os números foram utilizados assertivamente para ilustrar a análise embutida na reportagem.
Contudo, o conteúdo não dispõe de elementos bem fundamentados que sustentem o enunciado do título, indicando que a saúde de Lula estaria frágil. A higidez do presidente é questionada na reportagem apenas pelo ex-deputado estadual cearense Carlos Matos (União Brasil), cuja trajetória política local é de oposição a governos e políticos do PT.
O caso Joe Biden
Não seria necessário que a reportagem em questão trouxesse um prontuário assinado pelos médicos de Lula atestando se ele está apto ou não para cumprir suas funções. Mas para colocar isso em dúvida é imprescindível que existam elementos fortes o suficiente para justificar os questionamentos, o que não ocorreu.
Um exemplo não tão distante temporalmente é o de Joe Biden. Há praticamente um ano, em 21 de julho de 2024, o ex-presidente americano desistiu de concorrer a um novo mandato na Casa Branca, na disputa eleitoral de novembro vencida por Trump.
Ninguém teve acesso às informações do estado de saúde de Biden, que teve revelado em maio último um diagnóstico de câncer de próstata. Entretanto, na época, eram públicos os episódios nos quais ele tomava atitudes ou dava declarações que justificavam o levantamento de dúvidas sobre sua capacidade de estar à frente da Casa Branca. Pressionado, o então presidente abriu mão da disputa.
Esse caso não parece guardar semelhanças com o de Lula sob nenhum aspecto. É de conhecimento geral que o presidente brasileiro sofreu um acidente doméstico no fim do ano passado, foi submetido a procedimentos cirúrgicos e passou dias internado. Depois disso, retomou a agenda normalmente. Há meses tem viajado com alguma frequência pelo País e para fora dele. Até onde se sabe, tem cumprido sua agenda no cargo para o qual foi eleito.
A Redação responde
Questionei a editoria de Política para saber se ela considera ter havido um erro de avaliação ou uma falta de um maior aprofundamento na reportagem. “A questão da saúde nem de longe era o foco, mas o próprio presidente aponta essa questão como o fator que pode fazê-lo desistir de uma candidatura, o que não reconhece sobre os outros pontos. Não são segredo os problemas que o presidente enfrentou em meses recentes. Entendo que tratar de uma questão que é delicada cause desconforto. A questão poderia ter sido colocada de outra forma, até para evitar o desvio de foco dos pontos centrais”, afirma Érico Firmo, colunista e editor-chefe de Política.
“Porém, a saúde dos governantes é uma questão de interesse público. Lula é, inclusive, um exemplo de quem trata isso com transparência, o que não ocorre com vários líderes políticos”, complementa Firmo.
De fato, a saúde de um presidente - ou eventual falta dela - é um tema de muita relevância. Assim também como é a saúde de todos os candidatos e candidatas que desejem chegar à Presidência ou qualquer posição de liderança política. Mas são necessários mais elementos para colocar isso em debate. Sem eles, é grande o risco de enveredar para uma discussão etarista.
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