
Formada em medicina pela Universidade Federal do Ceará (UFC), residência médica em Psiquiatria pela Universidade de São Paulo (USP), Título de Especialista em Psiquiatria pela Associação Brasileira de Psiquiatria
Formada em medicina pela Universidade Federal do Ceará (UFC), residência médica em Psiquiatria pela Universidade de São Paulo (USP), Título de Especialista em Psiquiatria pela Associação Brasileira de Psiquiatria
Quando eu era pequena, tive um sonho. Vi meu avô Ari caminhando entre outras pessoas na rua. Ele não me via. Senti uma alegria imensa, mas também o receio de não encontrá-lo novamente. Era urgente contar ao papai que ele estava vivo.
Meu avô morreu antes de eu nascer. Cresci sabendo que era possível perder cedo demais alguém muito importante. Isso me angustiava. Por outro lado - talvez pela ausência precoce do meu avô - ganhei um pai amoroso, cuidadoso, que nos transmitiu o gosto e o valor da intimidade.
Embora não o tenha conhecido, o vovô sempre esteve presente em nossa mesa. Papai, um exímio contador de histórias, fez-nos imaginá-lo vividamente: um homem inteligente, culto, à frente de seu tempo, irônico, dedicado à família e extremamente corajoso.
Já adulta, numa tarde na Livraria da Vila, em São Paulo, tomávamos café quando papai me contou algo que eu não sabia:
- Minha filha, depois que o papai morreu, sempre que eu tinha alguma dúvida em um momento difícil, eu sonhava com ele. No sonho, ele me dava a solução. Depois, continuei a sonhar, mas ele já não falava nada. Com o tempo, deixei de sonhar.
Ah, como eu queria sonhar com ele de novo! - disse, rindo emocionado. Não sei se percebeu a minha comoção. Aquilo me atravessou: por um instante, senti a dor que ele carregava pela ausência precoce do pai. Mas o meu pai fez da ausência, presença. Há 25 anos, em um momento de recomeço profissional, homenageou o próprio pai dando o seu nome à Escola Ari de Sá Cavalcante.
Desde então, honra esse legado oferecendo um ensino de excelência e transformando o futuro de tantos jovens estudantes. Em 2025, recebeu o Troféu Sereia de Ouro, concedido pelo Grupo Edson Queiroz, e, com humildade, reconheceu que o prêmio pertence a todos os que fazem a escola.
Na vida íntima, preserva a memória do vovô através de um amor devotado. Talvez seja esse o sentido mais profundo do amor: o desejo - e a capacidade - de manter viva a lembrança do outro em nós.
"O beijo do meu pai, o primeiro que não teria em toda a vida. Ele também veio beijar--me. Não me deixou em um instante ainda. Mora em mim."
Blanchard Girão.
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