Pelo menos desde 2013, com o artigo Estado paralelo, venho alertando para o perigo que representa a Polícia Militar (PM) para o Estado Democrático de Direito, devido ao fato de os governadores terem perdido o controle sobre essa força.
Insurgência
O meu artigo mais recente a respeito do assunto É preciso deter a insurgência na polícia foi publicado no dia 11/6/2021. Como consequência, o golpe de Estado, a prioridade política de Jair Bolsonaro, teria como protagonistas a PM e as milícias, que sempre tiveram o apoio da família do presidente.
Modéstia
Isso quem vem dizendo é um jornalista que escreve em um veículo regional, portanto com menos repercussão que as publicações dos jornais do Sudeste. (Pela qualidade da análise, sem falsa modéstia, os jornalistas do O POVO não ficamos devendo nada a ninguém, pelo contrário.)
Militarismo
Agora, o jornal Valor Econômico (7/6/2021) publicou entrevista com Francisco Teixeira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), especialista em militarismo. Ele foi professor na Escola Superior de Guerra (ESG) e na Escola de Comando do Estado-Maior do Exército (Eceme), e continua mantendo contato com os generais para os quais deu aula.
Rancor
Na entrevista com o título “Rancor militar terá frutos contra Bolsonaro”, o professor afirma que o fato de o comando do Exército não ter punido o general Eduardo Pazuello deixará sequelas que poderão dificultar a situação do presidente da República: “Não foi bom para a democracia, mas diria que não é para os bolsonaristas comemorarem”.
Perplexos
Para ele, os generais ficaram “perplexos” (com a intervenção de Bolsonaro para livrar Pazuello da punição), mas também “gerou sentimento de rancor e humilhação, que terá frutos”. Para o comando, diz Teixeira, era uma situação que deveria ter sido resolvida no âmbito do Exército. Segundo ele, o objetivo de deixar Pazuello sem punição foi não dar motivo para Bolsonaro desautorizá-los ou exonerar o comandante Paulo Sérgio Nogueira.
Golpe na Bolívia
Segundo Teixeira disse ao jornal, as Forças Armadas não seriam mais os atores centrais de um eventual plano para subverter a ordem constitucional. “O modelo de Bolsonaro não é o Brasil de 1964, é a Bolívia de 2019 e a invasão do Capitólio de Washington, em 2021”, referência a tentativas de golpes baseadas na atuação ou na inação das polícias.
Projeto autoritário
Para Teixeira, segundo o Valor, o presidente brasileiro trabalha para corroer a unidade dos militares para que eles não o atrapalhem em seu projeto autoritário, de não aceitar o resultado eleitoral em caso de derrota em 2022.
O mapa
Teixeira: “Esse é o mapa. O Bolsonaro não precisa que as Forças Armadas deem o golpe. Precisa que elas fiquem no quartel. Para criar o tumulto, ele vai utilizar as polícias militares, para que, com sua extrema violência e truculência, derrubem os governadores, massacrem a população, impeçam as manifestações e mandem o cabo e o soldado ao Supremo Tribunal Federal. (...) Agora o modelo é o golpe pelas polícias e pelas milícias”.
Exército miliciano de Bolsonaro
O professor cita que Bolsonaro tem laços com mais de 430 mil policiais militares e cerca de 350 mil guardas de vigilância privada: “A maioria tremendamente bolsonarista”. São quase 800 mil homens. Esse é o exército miliciano do Bolsonaro. Ele é funcional, conhece cada rua, beco e viela no Brasil. O Exército das Forças Armadas tem mais de 300 mil homens, dos quais apenas 70 mil com capacidade de mobilização imediata”, disse ao Valor.
Motim no Ceará
Ao Valor, Teixeira ainda disse que o motim de policiais militares no Ceará, no ano passado, e a repressão da tropa de choque da PM de Pernambuco aos manifestantes que protestavam contra o presidente, no Recife, no dia 29, são prévias do que pode acontecer nas eleições de 2022.
(Esses dois episódios e o apoio miliciano ao golpe anotei no artigo "É preciso deter a insugerância na polícia". Aqui em resumo da relação dos Bolsonaros com as milícias.)
Ditadura
O resumo é o seguinte: Bolsonaro pretende golpear a democracia, e quanto a isso não há dúvida alguma, pois ele faz questão de anunciar dia sim e outro também seu objetivo autoritário. Portanto, quem continua apoiando Bolsonaro, independentemente do motivo alegado, está trabalhando a favor de uma ditadura.