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As evidências de que o governo Bolsonaro agiu intencionalmente contra os Yanomamis
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Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

As evidências de que o governo Bolsonaro agiu intencionalmente contra os Yanomamis

O ex-presidente respondia aos alertas da Organização das Nações Unidas (ONU) omitindo a dimensão da crise e garantindo que os povos indígenas estavam sendo atendidos

No artigo anterior, comentei o livro “A farsa Yanomami” (1995) do general de Exército CArlos Alberto Lima Menna Barreto, no qual ele expõe a tese conspiratória de que não existiria a etnia Yanomami, que teria sido criada artificialmente para instalar uma “nação” indígena no território que ficaria sob controle dos países do “Primeiro Mundo”.

O que o general fez foi juntar um tema já circulante entre os militares a respeito do assunto, qual seja, da necessidade de promover a “integração” dos indígenas, negando-lhes o direito ao seu modo de vida em território próprio, sob a desculpa de preservar a soberania nacional, o que é revelador de ignorância e preconceito.

Assim sendo, concluí o artigo dizendo que durante o governo do presidente Jair Bolsonaro foi instituída uma política deliberada para negar qualquer direito aos indígenas, levando, em última circunstância, ao seu extermínio, valendo-se, para isso, de uma teoria farsesca.

Abaixo, reúno algumas declarações e decisões de Bolsonaro que são evidências de que houve intencionalidade no comportamento para chegar à tragédia humana que vivem hoje os Yanomamis, e que o mundo assiste horrorizado.

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DEMARCAÇÃO

O então presidente Fernando Collor de Mello assina a demarcação das terras Yanomami, em 1992.

Bolsonaro é contra
Em seguida um obscuro deputado, em primeiro mandato, Jair Bolsonaro, propõe um a aprovação de decreto legislativo com o seguinte teor: “Torna sem efeito o decreto de 25 de maio de 1992, que homologa a demarcação administrativa da terra indígena Yanomami”. O argumento ridículo usado por ele é que os yanomamis “logo” iriam declarar uma “nação independente” no território. O projeto de então deputado foi arquivado.

Insistência
"Bolsonaro tentou por quatro vezes extinguir a reserva Yanomami.” (Congresso em Foco, 26/1/2023)

INIMIGO DOS POVOS ORIGINÁRIOS

Cavalaria contra os indígenas
“A cavalaria brasileira foi muito incompetente. Competente, sim, foi a cavalaria norte-americana, que dizimou seus índios no passado e hoje em dia não tem esse problema em seu país.” (Discurso de Bolsonaro na Câmara dos Deputados, em 15/4/1998)

Promessa de campanha
“Se eu assumir como presidente da República, não haverá um centímetro a mais para demarcação (de terras indígenas).” Declaração em 9/2/2018, durante a campanha eleitoral.

Cumprindo depois de eleito
“Bolsonaro diz que não fará demarcação de terras indígenas.” (Agência Brasil, 16/8/2019)

Funai contra indígenas
“Moro nomeia para Funai diretor que acha ‘absurdo’ entidade demarcar terra indígena.” (Yahoo Notícias, 21/9/2019)

Marco temporal
“Bolsonaro defende marco temporal para não ‘entregar o Brasil aos índios.’” Para o presidente, indígenas só podem reivindicar áreas que já ocupavam antes da promulgação da Constituição de 1988. (Correio Braziliense, 2/9/2021)

GARIMPEIROS ILEGAIS AGEM COM AUTORIZAÇÃO DO GOVERNO

Projeto de invasão
“Bolsonaro anuncia projeto que permite garimpo em área indígena e sugere ‘confinar ambientalistas’” (El País, 5/2/2020)

Bolsonaro visita amigos garimpeiros
“O presidente Jair Bolsonaro visitou na terça-feira a região de garimpo ilegal na terra indígena Raposa Serra do Sol, no município de Uiramutã, em Roraima.” (Poder 360, 28/10/2021)

Presa por tráfico ganha direito de explorar ouro
“No apagar das luzes do governo Jair Bolsonaro (PL), o general Augusto Heleno autorizou a exploração de ouro numa área de 9,8 mil hectares vizinha à Terra Indígena Yanomami, em Roraima. A beneficiária do ato é uma mulher que já cumpriu pena de prisão por tráfico de drogas e que foi denunciada pelo MP (Ministério Público) por suspeita de receptação de pneus roubados.” (Folha de S.Paulo, 16/1/2023)

Terras invadidas
“Terra Yanomami: invasão de 20 mil garimpeiros e toneladas de mercúrio. A situação de emergência humanitária é reflexo do corte de recursos da saúde indígena, além da contaminação dos recursos naturais pela invasão do garimpo ilegal.” (IG, 24/1/2023)

Aumento criminoso: 632%
“Garimpo ilegal em terras indígenas cresce 632% entre 2010 e 2021.” Levantamento do MapBiomas apontou que a mineração industrial passou de 86 mil hectares de área ocupada em 2001 para 170 mil em 2021 (Fundação Padre Anchieta, 27/9/2022)

DEIXANDO O CRIME ACONTECER

Inação
“Garimpo e inação do governo levaram yanomami à tragédia.” (DW, 22/1/2023)

Ministério da Defesa se omite
“Procuradores do MPF de Roraima pediram apoio das Forças Armadas para impedir rota de invasão em Surucucu, mas explicam que não houve ordem do Ministério da Defesa para a ação.” (O Globo, 25/1/2023)

Plano ignorado
“Militares que dirigiram Ibama ignoraram plano de socorro ao povo Yanomami. Coronéis da reserva do Exército nomeados para diretorias do Ibama durante a gestão Bolsonaro deixaram de executar plano que previa a retirada dos garimpeiros da terra indígena.” (Terra, 26/1/2023)

OCULTANDO A CRISE HUMANITÁRIA

Apagão de dados
“Apagão de dados sob Bolsonaro tentou ocultar a dimensão da crise yanomami. Invasão de garimpeiros, falta de equipes médicas e de medicamentos, que levaram à crise humanitária foram denunciadas há anos por lideranças indígenas, mas ignoradas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.” (DW, 22/1/2023)

Bolsonaro mentia dizendo que os indígenas estavam sendo atendidos
“ONU diz que alertou 'várias vezes' governo sobre crise dos indígenas. Ao longo dos últimos quatro anos, o UOL revelou como o governo de Jair Bolsonaro respondeu às cobranças internacionais em cartas nas quais omitia a dimensão da crise e garantia que os povos indígenas estavam sendo atendidos.” (Uol, 24/1/2023)

Funai proíbe Fiocruz de prestar ajuda
“Funai proíbe equipe da Fiocruz de levar assistência aos Yanomami em meio à desnutrição, surto de malária e abandono do governo.” (G1, 21/11/2021)

100 pedidos
“Mais de 100 pedidos de ajuda: o que levou à crise que matou yanomamis.” (Uol, 24/1/2023

Internações
Yanomami: mais de 700 crianças indígenas foram internadas em 2022 (G1, 26/1/2023)

A vida dos pequenos indígenas
“Como chegamos aos 570 pequenos indígenas mortos por negligência do governo Bolsonaro.” (Sumaúma, 21/1/2023)
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Existem dezenas de outras declarações e decisões que indicam claramente que o governo de Jair Bolsonaro tinha um propósito de violentar os povos originários, levando-os a uma situação de desespero e morte. Que as investigações sejam feitas e que os responsáveis por esse genocídio respondam por seus crimes.

Foto do Plínio Bortolotti

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