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Vitória de Milei corrói a democracia
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Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Vitória de Milei corrói a democracia

Como controlar a raiva, a desesperança e a pressa de quem está por baixo? Mesmo tendo ciência desse panorama, os políticos tradicionais e os segmentos privilegiados do serviço público continuam dançando na proa do Titanic

Recentemente escrevi o artigo “Autoritarismo avança ou recua no mundo?”, expondo a análise de Steven Levitski, coautor do livro “Como as democracias morrem”, que vê resiliência dos regimes democráticos frente às investidas autoritárias; em contraposição, um estudo sueco, do Instituto Internacional para a Democracia e Assistência Eleitoral (Idea), aponta para o enfraquecimento da democracia no mundo.

Pois bem, a eleição de Javier Milei para a Presidência da Argentina, com uma diferença significativa sobre seu adversário Sergio Massa, marca mais um ponto a favor do autoritarismo.

Guardadas as particularidades, Milei se filia às forças de extrema direita no mundo, cujos representantes destacados são Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, e Jair Bolsonaro, coisa da Terra Brasilis. Não por acaso, se Bolsonaro era considerado o “Trump brasileiro”, o filhote dessa linhagem ganhou o epíteto de “Bolsonaro argentino”. Gente de má qualidade, candidatos a autocratas, defensores de regimes de força.

Milei, como se costuma dizer no Brasil, “passa pano” para a ditadura argentina. Em debate, afirmou não ter havido 30 mil desaparecidos políticos durante o regime dos militares (1976-1983), corrigindo o número para 8.753, como se isso reduzisse a gravidade dos crimes cometidos, que incluem ainda prisões, tortura, execuções e roubo de bebês. (Um Milei do futuro dirá que não houve mais de quatro mil crianças palestinas assassinadas pelo Exército de Israel, talvez a metade.)

A vice-presidente de Milei, a deputada Victoria Villarruel — de uma família de militares — define o período da ditadura militar como uma “guerra” contra o comunismo. Ela defende a revisão da política de memória e direitos humanos, que indenizou milhares de vítimas da repressão estatal.

Reconheça-se que as pessoas, não somente na Argentina, estão cansadas da “casta” política que acumula privilégios, enquanto o cidadão comum tem de ralar para conseguir o mínimo para a sua sobrevivência. Inclui-se no pacote um segmento intocável do serviço público que considera normal ter duas férias por ano e acumular em seu contracheque valores que superaram o teto salarial do funcionalismo.

Por isso o discurso de ruptura, antiestablishment, contra o status quo, ganha tanta repercussão e convence os cansados eleitores da necessidade de “mudança” para “que se vayan todos”, mandar a todos os políticos embora. É uma forma de fazer política que corrói e corrompe a democracia.

Em situações assim, o mais racional seria escolher o mal menor, no caso Sergio Massa, que não ameaça o regime democrático.

Mas como controlar a raiva, a desesperança e a pressa de quem está por baixo?

Mesmo tendo ciência desse panorama, os políticos tradicionais e os segmentos privilegiados do serviço público continuam dançando na proa do Titanic.

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