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Por dentro do golpe de 8 de janeiro
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Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Por dentro do golpe de 8 de janeiro

Depois do que declarou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, em entrevista ao jornal O Globo, espanta-se qualquer dúvida sobre o objetivo criminoso dos golpistas

“Alguém tem dúvida de que os fanáticos e os espertos bolsonarianos continuarão a dizer que os golpistas eram apenas uma bandalha de inocentes, mesmo depois das revelações de Moraes?”

Escrevi essa mensagem na minha conta no X (antigo Twitter), pois imagino que ninguém, além dos tipos descrito acima, poderá continuar acreditando que o movimento de 8 de janeiro foi “espontâneo” de um grupo de “patriotas”, preocupados com o País ou, no máximo uma turba que queria apenas protestar e acabou exagerando um pouco.

Depois do que declarou o ministro do Supremo Tribunal Federal (TSE) Alexandre de Moraes, em entrevista ao jornal O Globo (4/1/2024), espanta-se qualquer dúvida sobre o objetivo criminoso dos golpistas de 8 de janeiro de 2023. E que a sublevação da extrema direita somente foi derrotada pela ação rápida das instituições, e por erro de cálculo dos golpistas, pois esperavam que o Exército viesse lhes socorrer.

O destino do ministro
São de arrepiar as palavras de Moraes, ao relatar qual seria seu destino, caso o plano dos criminosos tivesse sucesso. De acordo com as investigações, eram discutidos três cenários:

“O primeiro previa que as Forças Especiais (do Exército) me prenderiam em um domingo e me levariam para Goiânia. No segundo, se livrariam do corpo no meio do caminho para Goiânia. Aí, não seria propriamente uma prisão, mas um homicídio. E o terceiro, de uns mais exaltados, defendia que, após o golpe, eu deveria ser preso e enforcado na Praça dos Três Poderes”.

Quem procede dessa maneira, nem que seja por “bravata” (alguns virão em socorro com essa desculpa) não está brincando: ou tem a intenção de fazer ou está insuflando a turba a fazê-lo, o que dá no mesmo.

Garantia da Lei e da Ordem
O ministro ainda lembra que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Justiça Flávio Dino cogitaram convocar o Exército em nome da Garantia da Lei e da Ordem (GLO), mas terminaram optando pela intervenção federal em Brasília. Conseguir uma GLO era uma das motivações do ataque, pois os golpistas queriam ver os militares nas ruas, na esperança que aderissem ao golpe.

(No dia 8/1/2023, às 17h18min, escrevi no Twitter: “O maior erro que o governo pode cometer será chamar uma GLO. O Exército incentivou golpistas esperando justamente esse bote".)

Quanto às providências que ele tomou no dia, Moraes destacou três medidas: as prisões do então secretário (da Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres) e do comandante geral da Polícia Militar (Fábio Augusto Vieira), “para evitar efeito dominó em outros estados”. O ministro temia que o motim se espalhasse pela corporação em diversos estados.

(Em vários artigos venho alertando para a politização da Polícia Militar.)

Moraes reconhece ter sido “um erro muito grande das autoridades deixar, durante o ano passado, aquelas pessoas permanecerem na frente dos quartéis. Isso é crime e agora não há mais dúvida disso”.

(Entre 2021 e 2023, escrevi pelo menos meia dúzia de artigos alertando que o golpe fermentava, inclusive nas franjas dos quartéis, com o beneplácito, quando não participação ativa de militares.)

Na política e na caserna
O ministro ainda garantiu que “todas as pessoas sobre as quais a Polícia Federal encontrar indícios serão investigadas, desde os executores até eventuais políticos”.

Sobre as linhas da apuração que investigam militares e autores intelectuais, o repórter perguntou a Moraes até onde a investigação vai chegar. A resposta:

— "Não há limite. Todos aqueles que tiverem a responsabilidade comprovada, após o devido processo legal, serão responsabilizados".

É o mínimo que se pode esperar, de modo a punir exemplarmente criminosos que forcejavam por implementar uma ditadura no Brasil.

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