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Golpe: eu estava lá, mas não vi nada
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Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Golpe: eu estava lá, mas não vi nada

O comportamento de Bolsonaro chegou às raias da humilhação, ao pedir licença para contar uma piada (fingindo intimidade com Alexandre de Moraes), a quem chamou de "meu ministro"
Interrogatório dos réus no processo de Golpe de Estado no STF. General Heleno.  (Foto: Ton Molina/STF)
Foto: Ton Molina/STF Interrogatório dos réus no processo de Golpe de Estado no STF. General Heleno.

O título do artigo resume o comportamento do “núcleo crucial” do movimento golpista. Sem a possibilidade de negar os fatos, suportados por evidências materiais, os réus valem-se evasivas,”esquecimentos” e truques verbais para criar uma "narrativa" própria de lobos em pele de cordeiro. Assim, as reuniões para a organização do golpe, transformam-se em inocentes encontros amigos, “preocupados” com a situação do País.

Exemplo da parolagem golpista está no depoimento do almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, que teria oferecido suas tropas como apoio ao golpe. Inquirido por Alexandre de Moraes, ele disse nunca ter usado a expressão “colocar tropas à disposição” para um golpe de Estado. Mas, uma pergunta: teria usado outra expressão como o mesmo sentido?

Há também um lado ridículo em alguns depoimentos, como o do general Augusto Heleno e de Jair Bolsonaro.

Heleno quis responder apenas às perguntas de seu advogado, isto é, o nobre causídico somente levantaria bola para o general cortar.

Mesmo assim, ele atrapalhou-se todo, chegando ao ponto de o advogado adverti-lo: “General, responda apenas sim ou não”. Mas não teve jeito, o militar desperdiçou as bolas. Além de um mau militar, ele também mostrou-se péssimo ator, sem conseguir acompanhar o roteiro nem mesmo com o diretor soprando-lhe no ouvido.

Isso leva a questionar a formação dos militares brasileiros, que não conseguem juntar lé com cré, e cujo exemplo mais vistoso é o próprio Jair Bolsonaro.

A propósito, Bolsonaro, ao menos desta vez, seguiu à risca a orientação de seus conselheiros, mas exagerou no papel de sujeito boa praça. O comportamento dele chegou às raias da humilhação, ao pedir licença para contar uma piada (fingindo intimidade com Moraes), a quem chamou de “meu ministro”.

Ainda desculpou-se com Moraes e outros ministros, a quem havia acusado de receber dinheiro para fraudar as eleições de 2022. Bolsonaro confirmou a falsidade da denúncia. Segundo ele, teria sido apenas “retórica”. Por fim, não vacilou para chamar de “malucos” seus seguidores mais fiéis, os quais ele incentivou a ir às ruas para defender um golpe militar.

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