Plínio Bortolotti integra o Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
As precatas da discórdia: a polêmica da chinela japonesa
A propaganda das Alpargatas foi pensada para produzir o resultado que produziu. Certamente a campanha vai virar um "case", candidata a ganhar um Leão de Ouro em Cannes
Foto: Havaianas/Divulgação
Coleção de chinelo Havaianas em parceria com a Dolce&Gabanna está esgotada
O boicote à chinela japonesa de luxo, cujo codinome é Havaianas, revelou que a extrema direita vem caindo na própria armadilha, a de provocar muito barulho para faturar politicamente na confusão.
Essa turba tem como método pegar uma mentira, tipo “kit gay”, para fazer zoada, obrigar a “esquerda” a se manifestar, tendo como propósito aumentar o engajamento dos “malucos” e “coitados” — a forma como os pastores dessa seita de fanáticos se referem ao rebanho.
Mas os bolsonaristas se deram mal quando quiseram dar uma voadora na pleura (com os dois pés) em uma empresa hoje multinacional e multimilionária, mas que começou a vida vendendo um modesto calçado de lona para trabalhadores pobres: as precatas ou alpercatas ou alpargatas (como a empresa), entre outras variações regionais.
A propósito, as sandálias também nasceram em berço humilde, para caber no bolso dos descalçado. Sua publicidade destacava que as “legítimas” Havaianas “não deformam, não têm cheiro, nem soltam as tiras”, como diziam personagens populares de Chico Anísio, para conquistar consumidores menos abonados, que precisavam de um calçado leve e resistente.
Depois a marca passou por um “rebranding”, com ricos, famosos, sofisticados e perfumados tomando o lugar dos personagens populares do humorista de Maranguape.
Uma turma com essa competência, que consegue transformar uma simples chinela em um sapatinho de Cinderela, objeto de desejo internacional, dizem por aí, não brinca em serviço.
Portanto, digo o seguinte: a campanha foi pensada, desde o seu início, para fazer barulho, com o objetivo de “deixar a direita indignada e a esquerda perplexa” (direitos autorais para Collor de Mello).
A isca foi mordida. A extrema direita ficou indignada e convocou um boicote à marca, comemorando a queda das ações da companhia; a esquerda foi obrigada a defender uma empresa “capitalista”, mas que “representa o Brasil no exterior”.
Depois do estrepitoso fracasso do boicote e da recuperação de seus papéis na bolsa, as redes sociais das Alpargatas ganharam milhares de novos “fãs”.
Ou seja, a propaganda foi pensada para produzir o resultado que produziu. Certamente a campanha vai virar um “case”, candidata a ganhar um Leão de Ouro em Cannes.
PS. Com o slogan “liberdade é uma calça velha azul e desbotada”, a USTop quis faturar em cima do movimento hippie. Aa Alpargatas podiam repetir a dose com o conceito de liberdade de Zé Limeira, o poeta do absurdo, no verso: “Moro embaixo do meu chapéu, em cima das minhas precatas”.
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