Rachel Gomes é jornalista, mãe da Serena e da Martina e produz podcasts de maternidade há cinco anos. Em 2022, deu início ao MamyCast, primeiro podcast de maternidade do Ceará, onde aborda pautas informativas sobre maternidade, gestação e infância
Rachel Gomes é jornalista, mãe da Serena e da Martina e produz podcasts de maternidade há cinco anos. Em 2022, deu início ao MamyCast, primeiro podcast de maternidade do Ceará, onde aborda pautas informativas sobre maternidade, gestação e infância
Nos últimos dias, o termo sharenting voltou ao centro do debate internacional depois que o governo da Irlanda lançou uma campanha pedindo que pais e mães pensem duas vezes antes de postar fotos e vídeos de seus filhos na internet.
A iniciativa expôs um tema que atravessa a maternidade moderna com força cada vez maior: a exposição de crianças nas redes sociais como uma extensão da própria identidade adulta.
Sharenting é, no fundo, um reflexo do nosso tempo. Hoje, registrar a infância virou quase um ato automático.
Fotografamos sem pensar, publicamos sem hesitar, compartilhamos sem considerar que aquela criança — tão fotogênica, tão pequena, tão “nossa” — um dia crescerá e poderá não se reconhecer naquela versão fabricada, editada, recortada para caber numa narrativa pública.
A campanha irlandesa destacou pontos que raramente paramos para refletir: o excesso de informações pessoais, a identificação da rotina escolar, o uso de tecnologias de reconhecimento facial e, principalmente, a criação de pegadas digitais que acompanharão essas crianças por toda a vida.
Antes mesmo de aprenderem a escrever seu próprio nome, muitas já possuem um histórico online mais robusto do que adultos da geração anterior.
Mas o ponto que mais me chamou atenção — como mãe, jornalista e mulher atravessada pela maternidade em tempo integral — é como esse debate recai, quase sempre, sobre as mães.
Somos nós que somos cobradas a “mostrar a vida real”, a provar presença, afeto, rotina, cuidado. E, ao mesmo tempo, somos criticadas quando mostramos demais, quando mostramos de menos, quando expomos, quando protegemos, quando publicamos, quando silenciamos. É uma cobrança paradoxal: o mundo quer ver nossas crianças, mas quer, também, julgar nossas escolhas.
Talvez por isso o sharenting nos toque tão profundamente. Porque ele revela não só a fragilidade da infância, mas também a vulnerabilidade das mães diante da vigilância social — presencial, digital, política e afetiva. Publicar uma foto do filho deixa de ser apenas um gesto de orgulho e passa a carregar implicações éticas, emocionais e até de segurança.
E assim seguimos, entre o desejo de registrar tudo e o medo de expor demais. Entre a saudade antecipada do que estamos vivendo e a responsabilidade de preservar quem nossos filhos ainda serão.
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