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Vitória ou derrota de Trump e de seus imitadores
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Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha

Vitória ou derrota de Trump e de seus imitadores

As eleições nos Estados Unidos marcam não apenas a vitória ou a derrota de Donald Trump, mas sinaliza o fortalecimento ou o freio de outros líderes de extrema direita, entre eles o presidente Jair Bolsonaro

Os estadunidenses concluem hoje sua votação para presidente da República como quem se prepara para uma guerra. A paisagem do país transmitida por site, jornais, vídeos escancara o medo do presente e do futuro.

Lojas, em várias cidades, cercam suas vitrines de tapumes temendo ataques, outras retiraram armas das prateleiras, depois que serviços de inteligência trouxe a público a intenção das milícias em alguns estados onde a atuação dele é legal de fiscalizarem locais de votação. Até o momento isso não foi noticiado, mas o medo não impediu de as pessoas se prepararem para o pior.

Em alguns estados, segundo informações dos jornais O POVO, Folha de SP, Estadão, O Globo, New York Times e El País, os moradores foram aconselhados a estocar alimentos, como se estivessem à espera de um furacão.

Desta vez, o furacão chama-se Donald Trump, o homem que transtornou o complexo processo eleitoral americano numa prova de ansiedade global. Depois de meses atacando a legalidade do voto pelos correios, negando a gravidade da Covid-19 e acumulando mortes, atacando a imprensa e se envolvendo de forma parcial nos conflitos entre americanos negros e as políticas de alguns estados, Trump chega ao dia das eleições sem dar trégua. Até agora, deixou claro que contestará o resultado na Justiça americana e criticou abertamente a Suprema Corte por ter permitido que os votos que chegarem depois das eleições sejam contados nos estados da Carolina do Norte e Pensilvânia.

O resultado final dessa eleição histórica deve se arrastar por dias, no entanto pesquisas e as primeiras contagens podem apontar o vencedor. Se o vencedor for Trump, as expectativas de muita gente é que ele ponha ainda mais à prova os limites da democracia americana. Se for Joe Biden, ele terá pela frente a tarefa de juntar os pedaços de um país fraturado.

Ontem, o colunista jornal do New York Times, Thomas B. Edsall, escreveu um longo ensaio com o título “Esteja pronto para uma luta longa e violenta” no qual monta diversos cenários para uma eventual vitória de Trump ou Biden, a partir de cientistas e observadores políticos da América. Não existe saída fácil e uma vitória seja de um ou de outro deixa mais incógnitas do que certezas. Embora Trump só queira que a América volte a ser grande, mesmo que seja grande em tragédias, e Biden tenha entre seus pilares de governo a tarefa que parece quase impossível de unir os Estados Unidos.

LEIA MAIS SOBRE AS ELEIÇÕES NOS EUA: 

https://mais.opovo.com.br/jornal/reportagem/2020/11/03/o-impacto-para-o-brasil-da-historica-eleicao-nos-estados-unidos.html

Uma das ideias que Edsall chama a atenção para a montagem da sua teia analítica é a do “centrismo progressista”, concebida por John Judis e Ruy Teixeira no livro The Emerging Democratic Majority (A maioria Democrática Emergente). Segundos os autores, o centrismo progressista tem capacidade de reunir 10% de profissionais com nível superior, 20% de mulheres trabalhador e 75% da minoria que vota e dos eleitores brancos da classe trabalhadora. Esse contingente formaria uma maioria democrática emergente que apoia candidatos do perfil de Joe Biden nos Estados Unidos. Os autores creem que esse grupo será capaz de eleger o candidato democrata.

O argumento de Judis e Teixeira é que esses eleitores não estão à direita radical apoiando o levante contra os valores democráticos, mas que também recusam uma esquerda feroz têm profundo incômodo por gente como Trump,  que demonstra desprezo pelas leis, pela imprensa e pela a capacidade de congregar pensamentos divergentes.

Isabel V. Sawhill, pesquisadora sênior da Brookings afirmou no New York Times que a política, como é vista hoje e praticada por muitos, está perto de uma religião: “Em suma as pessoas não estão mais votando com base no interesse econômico ou nas políticas que defendem, mas, sim, com base em seus valores culturais, o tipo de sociedade em que desejam viver e o tipo de pessoa que acreditam ser”.

É nessa espécie de concepção de política que homens como Trump e Bolsonaro se apoiam. Deixam de ser vistos como líderes políticos com projetos de poder antidemocráticos e passam a ser encarados como projetos de uma sociedade hegemônica que precisa expurgar todos os que pensam e vivem de forma diferente. Os recursos e rituais da democracia são rejeitados abertamente por esse tipo. Tanto do Brasil como nos Estados Unidos.

Richard Reeves , pesquisador sênior de Estudos Econômicos da Brookings, também entrevistado por Edsall, reforça a ideia de que a guerra cultural americana protagonizada por Trump compõe os ingredientes que dão formato a um modelo próprio de governar para um grupo: no caso dos Estados Unidos, esse grupo é composto por homens brancos que acreditam ter uma cultura superior e destacável em relação às demais na caleidoscópica nação americana.

“A ideia de vencer a guerra cultural é baseada na visão de que, de uma forma ou de outra, podemos forçar uma nação inteira a adotar nossos pontos de vista sobre uma variedade de questões, do aborto ao racismo, à racismo ao fascismo. Não apenas isso não é possível, como também não é desejável”, afirma Reeves, citado pelo colunista.

A eleição norte-americana não apenas definirá o novo rumo da nação estadunidense, ela certamente terá impacto sobre líderes como o presidente Jair Bolsonaro, não apenas um admirador de Trump, mas um imitador do homem que pela primeira vez na história norte-americana conseguiu testar os alicerces da democracia do país, que é um espelho para o mundo democrático.

 

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