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O impacto para o Brasil da histórica eleição nos Estados Unidos
Reportagem

O impacto para o Brasil da histórica eleição nos Estados Unidos

Principal potência mundial define novo presidente a partir desta terça-feira, 3
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Combinação de imagens criadas em 30 de outubro de 2020 mostra o candidato democrata à presidência Joe Biden acenando enquanto embarca em seu avião em New Castle, Delaware, em 22 de outubro de 2020 e o presidente dos EUA, Donald Trump, embarcando no Força Aérea. (Foto: MANDEL NGAN, Angela Weiss / AFP)
Foto: MANDEL NGAN, Angela Weiss / AFP Combinação de imagens criadas em 30 de outubro de 2020 mostra o candidato democrata à presidência Joe Biden acenando enquanto embarca em seu avião em New Castle, Delaware, em 22 de outubro de 2020 e o presidente dos EUA, Donald Trump, embarcando no Força Aérea.

É grande a expectativa mundial em relação ao resultado da eleição presidencial dos Estados Unidos, que apresentará o condutor da maior potência do globo pelos próximos quatro anos: o presidente republicano Donald Trump ou o democrata Joe Biden.

Projeta-se que o número de eleitores supere o pleito de 2016, quando 138,9 milhões foram às urnas. Mais de 95 milhões já haviam votado até ontem, pelos correios. Já motivo de uma controversa antecipada.

Nessa segunda-feira, Biden centrou esforços no estado da Pensilvânia, cotado como um dos definidores deste ano, e Ohio.

Biden X Trump: Acompanhe o resultado das eleições americanas clicando aqui

Trump também foi à Pensilvânia, adicionando ao próprio roteiro paradas na Carolina do Norte, Wisconsin e Michigan.

Alguns locais são evitados pelos candidatos porque a vantagem de um adversário sobre o outro está consolidada, não havendo tempo a perder.

No maior colegiado, a California, o candidato democrata aparece com larga vantagem, o que faz com que ambos não passem ali.

No Mississipi, Trump não se preocupa com o potencial eleitoral do concorrente. Os maiores estados que podem eleger um ou outro são Pensilvânia e Flórida.

O Brasil de Jair Bolsonaro (sem partido) tem lado na disputa. O presidente e seu staff aguardam com alguma ansiedade o que seria uma virada de Trump, que nas pesquisas aparece atrás de Biden em aproximadamente sete pontos, mas perto do adversário nos estados.

De traços populistas e afeito a polêmicas, Trump tem encontrado dificuldades em polarizar com um centrista pacato e que não desperta grandes paixões.

O mandatário conversador já sinalizou que contestará na Justiça eventual resultado adverso. O time de advogados já se prepara neste sentido. Biden afirmou que o magnata não terá coragem de "roubar" a eleição.

Somente é possível que o resultado saia na noite da votação se a vitória for expressiva para um dos lados. Os votos por correios, uma precaução diante das mais de 230 mil mortes por Covid-19, tendem a desacelerar o processo de apuração.

 

O POVO escutou observadores do desenrolar americano para projetar cenários, especialmente tentando olhar para as repercussões práticas no contexto brasileiro.

A depender do resultado nos EUA, a política externa e a agenda ambiental brasileiras podem sofrer impactos diretos. Professor e coordenador do curso de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), Felipe Loureiro acredita que "forças estruturais" tendem a manter as relações entre Brasil e EUA em níveis amistosos em caso de vitória de Biden.

"Acho difícil o governo brasileiro, até por colocar os EUA como líder benigno do sistema internacional, assumir uma postura de radicalização contra Biden. O próprio Biden, me parece, tenderá a ter postura mais pragmática e não-confrontacional", analisa Loureiro.

Ainda numa perspectiva de vitória democrata, o docente acredita que a condução do ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) sofrerá pressões, mas não a ponto de deterioração das relações bilaterais.

"O ponto central para um possível governo Biden é conter a crescente penetração chinesa na América Latina. E ter o Brasil como um país com quem se mantém relações cordiais é importante."

Para Sidney Ferreira Leite, especialista em relações internacionais do Centro Universitário Belas Artes (SP), vitória do candidato Biden pode impulsionar o Brasil a se relacionar com outras nações. Ele também acredita que eventuais pressões de um novo presidente não se traduzirão em conflitos exacerbados.

Se Trump se mantiver na Casa Branca, prossegue Leite, isso significará a continuidade de um alinhamento automático que não tem se materializado em ganhos palpáveis para o País.

"O presidente Bolsonaro tem uma visão do Trump diferente da visão que ele tem do Bolsonaro. É um fã. Olha como se fosse seu modelo e a recíproca não é verdadeira", considera Bosco Monte, pós-doutor em Relações Internacionais.

"O que temos hoje é uma relação bilateral muito assimétrica, na qual o Brasil concede muito e recebe pouco dos EUA. O essencial não mudará, me parece", adiciona Loureiro, considerando por outro lado que as relações comerciais devem se aprofundar de maneira favorável para os EUA.

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O cientista político Rodrigo Prando, da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP), lembra que a vitória de Biden, se materializada, pode pavimentar um caminho para novo arranjo político mundial, inibindo o surgimento de novos líderes populistas e iliberais.

"Poderia mudar o clima político mundial, mas também com impacto no clima político brasileiro para 2022, colocando o presidente Bolsonaro na defensiva", diz Prando. Para ele, isso dependerá das forças políticas que buscarão se viabilizar como alternativa.

"O Brasil fica em compasso de espera porque os democratas brasileiros creem que uma vitória do Biden, simbolicamente, pode ser elemento que permita construir um discurso contra o bolsonarismo", encerra.

 

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