
Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha
Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha
É tanta coisa acontecendo no mundo de forma tão inexplicável que o ideal, nesses momentos, é desacelerar um pouco. Por isso, decidi indicar aqui quatro sugestões de livros para, quem sabe, você ler entre uma festa e outra, enquanto 2024 termina de mansinho.
Vou começar pelo “A Vegetariana”, de Han Kang, a quem eu conheci meses antes de a moça receber o Nobel de Literatura este ano.
O livro é curto, econômico e potente. Impressiona como uma simples decisão de não comer carne pode mudar uma família e encaminhá-la para uma tragédia.
Kang começa a narrativa pela voz do marido de Yeonghye, que a escolheu como esposa justamente por ela não se destacar em nada. Era tudo o que ele queria: alguém tão comum que passasse despercebida. Nem bonita nem feia, sem muita inteligência a ponto de se sobressair, que se vestisse como todo mundo, que só falasse o necessário.
No dia em que a mulher decide se tornar vegetariana, tudo muda. Marido, família, depois os médicos não entendem o motivo de tal teimosia, mas o que eles não conseguem compreender – nem com violência – é de onde vem tal força e determinação desconhecidas de todos.
“A Vegetariana” é um livro do nosso tempo, com todas as perversidades e anomalias que nos alcançam de forma sutil e quase imperceptível. A obra também nos diz daquilo que poucos de nós têm coragem suficiente para dizer, aliás, os arranjos da vida, às vezes, são tão medonhos que quase ninguém ousa até mesmo pensar. Sonhar é a mais pura subversão.
De Kang também, você poderá conhecer “O livro branco”. Num texto um tanto quanto autobiográfico, ela dá voz à irmã mais velha, morta duas horas após ter nascido num vilarejo sul-coreano.
A autora prova porque ganhou o Nobel a partir do momento em que reconstitui a frase dita pela mãe à filha recém nascida: “Por favor, não morra”. Aliás, a história do livro começa quando a autora passa uma temporada em Varsóvia e da janela do apartamento, ela vê a neve que cai sobre a cidade, e descobre que “precisa” escrever um livro “branco”.
A terceira dica – até já falei sobre ele artigos atrás –: “Escrever é muito perigoso”. Uma seleção de ensaios e aulas de Olga Tokarczuk, autora “Sobre os ossos dos mortos”.
Algo que eu considero interessante nessa autora é que ela constrói um texto em constante movimento. Andando pelas cidades, viajando, observando tipos nos aeroportos, olhando paisagens, subindo morros, percorrendo ilhas.
É como se a literatura de Tokarczuk nos convidasse a levantar da cadeira e ir às ruas, ver gente de verdade, observar a vida de uma forma mais curiosa. O mundo está cheio de histórias. Um livro para ler enquanto desacelera.
Por fim, arranje tempinho e encare “A vida secreta das emoções”, da filósofa italiana Ilaria Gaspari. Em algum lugar do livro, ela diz mais ou menos: “se a filosofia não serve para nos fazer entender a vida, não serve para nada”, e Gaspari faz valer a máxima, investigando as emoções a partir da filosofia clássica até a contemporânea, nos levando a conhecer a história do que sentimos enquanto humanos.
Tudo tão igual, separado apenas por terminologias. Uma filosofia sem pedantismo nenhum, uma prosa erudita, mas que soa como uma conversa agradável durante um café.
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