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Enquanto os neonazistas crescem, a História míngua
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Sou jornalista de formação. Tenho o privilégio de ter uma vida marcada pela leitura e pela escrita. Foi a única coisa que eu fiz na vida até o momento. Claro, além de criar meus três filhos. Trabalhei como repórter, editora de algumas áreas do O POVO, editei livros de literatura, fiz um mestrado em Literatura na Universidade Federal do Ceará (UFC). Sigo aprendendo sempre. É o que importa pra mim

Enquanto os neonazistas crescem, a História míngua

Nos últimos anos, chama a atenção o crescimento dos grupos neonazistas no Brasil e em vários países do mundo. Fotos, ícones e gestos nazistas têm circulado em canais de venda na Internet e seus adeptos espalham discursos neonazistas pelas redes sociais
Dentro do campo de concentração nazista de Auschwitz (Foto: Janek Skarzynski / AFP)
Foto: Janek Skarzynski / AFP Dentro do campo de concentração nazista de Auschwitz

O historiador François Hartog dá início às reflexões que reuniu no livro “Crer em História” justamente perguntando se alguém na contemporaneidade crê naquela que já foi uma espécie de rainha que ocupava o trono dos destinos da humanidade e tinha domínio sobre passado, presente e futuro. O texto de Hartog se encaminha para mostrar um panorama filosófico da História nos últimos 200 anos e como sua concepção e modos de fazer se alteraram radicalmente.

E é apenas isso que cabe aqui neste texto que tenta pensar minimamente em como o neonazismo tem se expandido mundo afora, fazendo com que seus símbolos e gestos se tornem corriqueiros. Só mais uma coisinha sobre Hartog. Segundo ele, o julgamento de Nuremberg que levou nazistas aos bancos dos réus foi a primeira vez que a História foi julgada pelos vencedores. O que aconteceu então com a história dos vencedores? E com a memória dos milhões que viveram sob o nazismo?

Nos últimos anos, o movimento em torno de grupos neonazistas, principalmente a partir de 2019, tem chamado atenção no País. No ano passado, uma reportagem da Agência Brasil revelou um crescimento de 270% na quantidade de células e grupos que espelham a ideologia nazista e defendem raça pura, nacionalismo exacerbado, superioridade racial e direitos extravagantes no exercício do poder sobre qualquer grupo que não se alinhe aos seus preceitos. Concentrados em redes como Telegram, os grupos focam em ataques virtuais contra negros, judeus, comunidade LGBT. Em países europeus os imigrantes são o principal alvo desses grupos.

Uma pesquisa rápida na internet e é possível encontrar canais de vendas de produtos diversos, desde canecas com a impressão do desenho do gás usado para matar judeus, a botons com foto de Hitler e da juventude nazista, além de bustos do ditador, e mais quinquilharias que fazem alusão ao regime do terror. Propagadores dessa ideia são atuantes nas redes sociais.

Na Alemanha, as últimas eleições mostraram o poder que a extrema direita identificada com a doutrina neonazista está despertando naquele país graças, em sua maioria, ao apoio dos jovens. Numa das festas da posse do presidente Trump, nos Estados Unidos, um dos seus principais assessores, Elon Musk, participou de um evento no qual, empolgadíssimo, fez um gesto que lembrou a saudação nazista. Depois ironizou o fato dizendo que era um símbolo romano. Na esteira da escassez do bom senso, o rap Kanye West lançou em janeiro, nos Estados Unidos, uma marca cujo único produto era uma camiseta com a suástica nazista vendida a 20 dólares.

Realmente me pergunto o que houve com a História. Como a memória dos horrores da Segunda Guerra Mundial promovidos e impulsionados pelo nazismo chegou tão esmaecida nos tempos atuais? Como tal doutrina seduz tantos jovens mundo afora? Por que Hitler permanece um modelo de líder patriota e nacionalista depois de tudo que aconteceu sob seu domínio criminoso? Assusta notar um certo recuo ou temor ou não sei bem o quê diante de tantas manifestações que lampejam para a ideia de que em breve, o ataque nazista à humanidade pode ser considerado apenas uma ficção, tal como os terraplanistas dizem sobre a ida do homem à Lua.

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