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Você (re)conhece seu duplo no ambiente virtual?
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Sou jornalista de formação. Tenho o privilégio de ter uma vida marcada pela leitura e pela escrita. Foi a única coisa que eu fiz na vida até o momento. Claro, além de criar meus três filhos. Trabalhei como repórter, editora de algumas áreas do O POVO, editei livros de literatura, fiz um mestrado em Literatura na Universidade Federal do Ceará (UFC). Sigo aprendendo sempre. É o que importa pra mim

Você (re)conhece seu duplo no ambiente virtual?

Escritora canadense, Naomi Klein, investiga discursos extremistas e propõe que os duplos de nós, criados no ambiente virtual a partir de informações cedidas voluntariamente, são alvo fácil de mensagens e produtos mediados pelas big techs
Naomi Klein investigou grupos do Instagram (Foto: Divulgação/Pexels (by Oleg Magni))
Foto: Divulgação/Pexels (by Oleg Magni) Naomi Klein investigou grupos do Instagram

Quem de nós para e pensa no novo mundo de duplos que o espaço virtual multiplica a cada milésimo de segundo? Esta é a ideia central presente no livro surpreendente que estou lendo: “Doppelgänger: Uma viagem através do mundo espelho", de Naomi Klein.

A canadense, colunista do “The Guardian", ficou famosa com o livro “No Logo", que revela a obsessão do mundo contemporâneo de fazer de cada ser humano uma marca.

Durante a pandemia, Klein mergulhou no mundo das redes da extrema direita no Canadá e Estados Unidos investigando grupos reunidos no Telegram, contas do Instagram e YouTube, programas em podcasts e TVs como a Fox, nos Estados Unidos.

Descobriu um emaranhado de discursos que se espalhou pelo mundo disseminando que “estamos em guerra” contra a possibilidade de perder as nossas “liberdades”, que as vacinas são um mal e uma nova forma de controle mundial e que um simples cartão de vacina seria capaz de nos tornar presos num sistema semelhante ao regime comunista chinês.

Enquanto observava a movimentação de influenciadores que se tornaram porta-vozes desse discurso mundialmente forte, que ergueu e continua erguendo líderes em todos os cantos do Planeta, ela percebeu que, na verdade, um outro movimento sorrateiro já estava em curso há bastante tempo imprimindo devagar, mas, de forma constante, uma espécie de medo que nos atinge a todos de estar perdendo o controle total sobre nossa privacidade, gostos, escolhas. Os algoritmos estão comandando nossa mente e nosso comportamento em muitas áreas.

Antes disso acontecer, nossa vida doada de forma espontânea nas redes e mundos virtuais criou duplos de nós, que formam personalidades consumistas de produtos e interesses de toda sorte, inclusive os políticos.

De posse desses duplos, as big tech nos entregam mensagens, ofertas e personagens que oferecem apenas o que estamos predispostos a comprar, ver e sentir (aqui estão incluídos todos os nossos medos).

Na política, os duplos sempre me surpreenderam. Quem eram as pessoas que eu e você conhecíamos que, de repente, passaram a ter atitudes e discursos tão diversos e a gente se perguntava e ainda se pergunta: “essa pessoa era assim? Ou ela ficou assim?”.

Olhando a política cearense, que anda bem movimentada, e lendo sobre a reunião entre ex-prefeito Roberto Cláudio (sem partido) e Bolsonaro (PL), fiquei pensando: Quem era aquele Roberto Cláudio do PDT, que, durante a pandemia, mesmo acossado por bolsonaristas, lutou contra o negacionismo bolsonariano para proteger Fortaleza dos efeitos da covid-19?

Quem ele é agora? Para mim, o ex-prefeito não combinava em nada com um discurso extremista que atenta contra instituições, e promove discurso de ódio, entre outras coisas. Era eu que não tinha percebido que ele seria capaz de se aliar a pessoas com esse perfil?

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