Sou jornalista de formação. Tenho o privilégio de ter uma vida marcada pela leitura e pela escrita. Foi a única coisa que eu fiz na vida até o momento. Claro, além de criar meus três filhos. Trabalhei como repórter, editora de algumas áreas do O POVO, editei livros de literatura, fiz um mestrado em Literatura na Universidade Federal do Ceará (UFC). Sigo aprendendo sempre. É o que importa pra mim
Ao chamar seguidores de "malucos" por pedir a volta do AI-5 em frente aos quartéis, Bolsonaro cria uma ranhura no real que é rapidamente reinterpretada por bolsonaristas
Foto: Reprodução/Redes Sociais
Os bolsonaristas fazem sinais de luz para o céu e pedem ajuda
Uma das coisas mais interessantes que ouvi no depoimento do ex-presidente Jair Bolsonaro foi quando ele chamou de “malucos” aqueles que ocuparam as portas dos quartéis e pediram a intervenção do Exército no País para impedir que o presidente Lula tomasse posse, mesmo após vencer as eleições de 2022.
Os “malucos” enfrentaram sol e chuva, rezando constantemente, passavam dias e noites à espera que algo acontecesse. Alguns “malucos” também cuidaram da logística, montaram cozinhas industriais em acampamentos ou disponibilizaram transporte e alimentos.
Achei muito interessante a posição do ex-presidente, enrolado até a alma no processo de atentar contra o processo democrático brasileiro, agora dizer que não havia “clima”, para ruptura, porque os militares não concordaram. É muita desfaçatez junta. Afirmar que sempre se aliou à Constituição é cinismo com certificado de pureza.
Não gostaria de ser uma daquelas mulheres que deixaram suas casas, brigaram com os filhos, vestiram roupas verde-amarelo cafonas e imploraram que os militares assumissem o risco de manter Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto.
Não gostaria de ser os homens que se identificaram tanto com a masculinidade bolsonariana que transformaram o ex-líder da Nação em ícone. Fico imaginando como pensa um Zé Trovão desses da vida, envolvido em tantas arrumações por Bolsonaro, e agora fica sabendo que não passa de um “maluco”.
Tenho uma imensa dó do empresário Francisco Wanderley Luiz, que se auto explodiu em frente ao STF, em novembro do ano passado, após abandonar tudo, inclusive o trabalho.
Ficou me perguntando por que o ex-mandatário não cuidou dos “malucos” dele. Será que Bolsonaro não percebeu que aquelas eram pessoas que precisavam de uma orientação pautada no real, em vez de deixá-los à própria sorte com suas maluquices? Infelizmente, a resposta é sim. Ele sempre percebeu.
Da mesma forma que Steve Bannon, ex-estrategista chefe da Casa Branca no primeiro governo Trump, sempre soube que não era possível recriar as indústrias de Detroit para que os operários estadunidenses reassumissem seus postos e a América voltasse a ser grande de novo.
Líderes como Bolsonaro e Trump contam com esse estágio emocional dos seus eleitores, que passam por uma espécie de sombreamento da realidade. É o que a escritora canadense Naomi Klein chama de “mundo-espelho”. Eles tentam criar um simulacro de realidade se apropriando, inclusive, de algumas pautas que tradicionalmente são da esquerda, como a liberdade de expressão.
Os malucos de Bolsonaro são preciosos e necessários, e desde a semana passada, com certeza, o “mundo-espelho” já criou uma narrativa para fazer frente a essa ranhura no real que Bolsonaro de caso pensado proporcionou aos chamá-los de “malucos".
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