Sou jornalista de formação. Tenho o privilégio de ter uma vida marcada pela leitura e pela escrita. Foi a única coisa que eu fiz na vida até o momento. Claro, além de criar meus três filhos. Trabalhei como repórter, editora de algumas áreas do O POVO, editei livros de literatura, fiz um mestrado em Literatura na Universidade Federal do Ceará (UFC). Sigo aprendendo sempre. É o que importa pra mim
Dedico esse texto à editora adjunta do OP+, jornalista Catalina Leite, que nasceu em Manaus, aprendeu a amar a natureza e faz do jornalismo um meio fundamental para despertar a consciência sobre o meio ambiente, seja o da Amazônia, do Ceará ou em qualquer parte deste Planeta
Foto: Marília Ribeiro/Divulgação
Aldeia do povo indígena Diakuru
O barco atracou na aldeia do povo indígena Diakuru, à margem esquerda do rio Negro. O calor era monumental. O termômetro marcava 35 graus, com sensação térmica variando entre 39 e 41 graus à medida que a tarde fazia o Sol testar o ânimo de italianos, asiáticos, paulistas e cearenses que deslizavam rápido pelo chão de terra batida procurando uma sombra debaixo da tenda ampla e alta. Ali, turistas são recebidos com farinha de peixe, formiga assada, beiju, farinha de mandioca.
A aldeia do povo Diakuru é uma das que entram no roteiro turístico da região. A olho nu, existe uma pacífica relação econômica entre o povo e a atividade. Eles acolhem bem, embora sem muita conversa, oferecem o que têm e cobram pelo artesanato em palha, penas, cerâmica, sementes. Não é barato.
Tentei comprar com desconto algumas peças, mas a jovem Sumé, firme, me disse “naom” umas duas ou três vezes. Paguei tudo o que ela pediu. Enquanto aceitava o convite para uma espécie de dança de despedida de quem visita a aldeia, pensei em toda a contradição que encerra hoje a Amazônia.
O lugar é lindo, exuberante, rico. Lugar onde os rios são fonte de tudo, mas, aos poucos estão deixando de ser. Uns amigos da amiga filha mais velha, que atualmente mora em Manaus, me explicaram que os rios estão sofrendo tanto que algumas espécies de peixes tradicionais da região estão sendo criados em cativeiro, comendo ração.
O tambaqui é um deles. O gosto, disseram, é bem outro. O do rio não tem comparação. Sigo imaginando o que seria a versão original do peixe que eu amei nas versões cozido, assado na brasa, frito com banana.
Foto: Divulgação/Marília Ribeiro
aldeia do povo indígena Diakuru
De uma engenheira florestal que atua há mais de 30 anos na Amazônia, ouvi que a pressão sobre o lugar é muito mais intensa do que se consegue supor e não apenas devido ao desmatamento e exploração ilegais.
A ganância legal, que se arma de documentos e certidões, também avança sobre terras indígenas, dificulta novas demarcações, modifica o trânsito dos rios, reduzindo a vida nas suas margens, impossibilitando a sobrevivência de povos que tiram tudo da natureza. Enquanto seguia o ritmo da dança, pensava no quanto é pouco o que se faz pela Amazônia.
Durante a semana, li o ensaio “A História da arte e as imagens da Amazônia”, de Aldrin Figueiredo. Soube que os primeiros registros das paisagens amazônicas na arte europeia datam do século 17. Essas imagens criaram uma narrativa sobre o lugar sustentada por mais de dois séculos.
Agora, faz-se uma encruzilhada sobre as narrativas contadas pelas experiências e por milhares de fotos que todos os dias centenas de pessoas captam na Amazônia sem que se consiga frear o desmonte que segue na natureza amazônica e que se reflete de forma tão monumental na vida dos povos indígenas, e em cada um dos nós, mesmo que não se perceba.
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