Sou jornalista de formação. Tenho o privilégio de ter uma vida marcada pela leitura e pela escrita. Foi a única coisa que eu fiz na vida até o momento. Claro, além de criar meus três filhos. Trabalhei como repórter, editora de algumas áreas do O POVO, editei livros de literatura, fiz um mestrado em Literatura na Universidade Federal do Ceará (UFC). Sigo aprendendo sempre. É o que importa pra mim
A morte de Charlie Kirk me fez ter a sensação de que a intolerância está tão entronizada entre nós que não fazemos mais distinção entre as coisas. Agimos como se estivéssemos no modo primitivo de sobrevivência, precisando abater qualquer um que nos ameace, mesmo que simbolicamente
Foto: Josh Edelson/AFP
Charlie Kirk era um ativista da extrema direita
De quarta-feira, 10, até anteontem, enquanto escrevia este artigo, conheci Charlie Kirk a partir da notícia da sua trágica morte enquanto falava com estudantes na Universidade de Utah. Baleado por um rapaz de 22, Tyler Robinson, que deve ter sido denunciado, ontem, como autor do disparo que matou Kirk. O jovem morto deixou esposa, duas filhas e uma discórdia que rompeu as barreiras do seu turbulento país.
De tudo que eu li sobre Charlie Kirk, não canso de lamentar em como os novos tempos produzem tipos tão díspares de ativistas. Não importa se à direita ou à esquerda. E como o espaço infinito da internet e redes sociais parecem pouco para o debate. Na verdade, a arena pública, hoje, se transformou num caldeirão de ódio pronto para ser derramado a qualquer instante.
Os pais de Tyler Robinson ajudaram a entregar o filho à polícia e disseram que ele vinha se radicalizando nos últimos tempos. A radicalidade de Robinson o fez subir num telhado armado com um rifle e, com um único tiro, deu fim ao debate do adversário, considerado politicamente de extrema direita, aliado de Donald Trump. A Universidade de Utah havia convidado Robinson para ser aluno da instituição por mérito. Cursou um semestre e abandonou os estudos.
Hoje, os Estados Unidos estão numa guerra declarada depois que Trump acusou a esquerda estadunidense pela morte de Kirk. Alguns apoiadores do presidente americano estão defendendo “o fim do Partido Democrata”. De sexta para cá, abriu-se um canal para receber denúncias de pessoas que se manifestaram a favor da morte de Kirk. Até segunda havia 20 mil denúncias.
Os que têm trabalho estão sendo demitidos de seus cargos e postos nos Estados Unidos, abrindo outro flanco de disputa entre o público e o privado num mundo onde tudo é móvel. No Brasil, encontrei o caso do historiador e escritor Eduardo Bueno que “comemorou” a morte do americano afirmando que as “filhas de Kirk estariam bem melhor sem o pai”.
O que Bueno deve ter achado quando pessoas, incluindo médicas, comemoraram a morte da dona Marisa Letícia, então mulher de Lula, em 2017? Como ele deve ter se sentido quando almas tortas debocharam do neto de Lula, morto aos 7 anos devido a uma infecção? A gente imagina que Bueno tenha sensibilidade para imaginar que dor não tem partido nem ideologia. Que a morte é a única coisa que nos irmana não importam origem, sobrenome, conta bancária.
A sensação que eu tenho é que a intolerância está tão entronizada entre nós que já nem sequer fazemos distinção sobre as coisas. Agimos como se estivéssemos no modo primitivo de sobrevivência, precisando abater qualquer um que nos ameace, mesmo que simbolicamente.
E ainda precisamos comemorar o desaparecimento do outro para fechar a “conta” da crueldade. Para onde será que estamos caminhando de mãos dadas com Sua Majestade, a Intolerância?
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