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O fracasso civilizatório e a incerteza do futuro
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Cineasta e escritor

O fracasso civilizatório e a incerteza do futuro

O Brasil, como civilização nova, vive ainda o processo de inventar-se como povo e nação. Para nós, brasileiros, essa construção só será completa com liberdade, soberania e o exercício pleno da cidadania
Tipo Opinião
Revolução Francesa marcou a história e mudou o rumo da França (Imagem: Reprodução digital | Netflix) (Foto: )
Foto: Revolução Francesa marcou a história e mudou o rumo da França (Imagem: Reprodução digital | Netflix)

Alguns pensadores europeus mais críticos veem o processo civilizacional da Europa e de suas ramificações na América como um grande "fracasso". Estão cientes de que as promessas de "igualdade, fraternidade e liberdade" da Revolução Francesa não foram cumpridas.

Mesmo na democracia liberal é mantido o poder dos mais fortes e mais ricos sobre os mais fracos e pobres, alargando o abismo da desigualdade social e recaindo, aqui e ali, em chamadas autoritárias sob o domínio do grande capital.

O mundo das Luzes e da Razão não evitou zonas de irracionalidade e trevas na vida social. O colonialismo e a Revolução Industrial cobraram de todo o mundo um preço alto demais: milhares de vidas escravizadas, destruição de povos, culturas e recursos naturais.

Fundaram uma economia e uma política que trazem algo de genocida e letal em si mesmas, em face de sua ânsia incontrolável por guerras e saques.

A experiência do socialismo real, cerceado pelo capitalismo e por suas próprias contradições, fracassou há décadas. Talvez a China experimente algo novo e transformador. Não sabemos. Só o tempo dirá.

O século XX, mesmo com o admirável avanço da ciência e da tecnologia, foi o século dos horrores belicistas, e o início do século XXI veio acentuar o aceno de autoritarismos vigilantes e genocidas, com os impulsos de um neoliberalismo de extrema-direita.

Tem crescido a consolidação do poder e da riqueza nas mãos de poucos, e o Estado tem se tornado refém das grandes corporações econômicas, socialmente irresponsáveis, frias e fechadas em suas fúteis ganâncias. Assim, chegamos a um mundo de desesperanças e distopias.

O Brasil, como civilização nova, vive ainda o processo de inventar-se como povo e nação. Para nós, brasileiros, essa construção só será completa com liberdade, soberania e o exercício pleno da cidadania; amparados no direito, na justiça e no senso coletivo de solidariedade.

Não espelhamos por completo o "fracasso civilizatório" dos países velhos, mas, não obstante toda a nossa criatividade e potencial econômico, enredamo-nos na submissão neocolonial de nossas rudes elites. Vivemos o transe de um processo violento, devastador e inconcluso, no qual a estrada do futuro se vê bloqueada pelo privilégio de poucos, dispostos a condenar os demais à submissão e à pobreza sem fim.

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