Pessoas negras em espaços de poder não estão imunes ao racismo
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Rubens Rodrigues é jornalista, editor de Cidades do O POVO. Nesta coluna, trata de assuntos ligados a raça, diversidade e direitos humanos. MBA em Jornalismo Digital e pós-graduando em Direitos Humanos, Responsabilidade Social e Cidadania Global pela PUCRS. Está entre o TOP 50 +Admirados Jornalistas Negros e Negras da Imprensa Brasileira.
Pessoas negras em espaços de poder não estão imunes ao racismo
Episódio em que ministra do TSE foi barrada em Brasília mostra que as estratégias do racismo seguem operantes e despudoradas
Foto: Agência Senado
Ministra do TSE foi barrada em evento que ela iria palestrar
Ser racializado no Brasil é estar atento a como as estruturas sociais se mobilizam. Impedir pessoas negras de entrar em espaços majoritariamente brancos ou lidos dessa forma é das mais cruéis estratégias do racismo.
A experiência do racismo é um dos fatores determinantes da vivência negra no Brasil. É o tipo de experiência que desumaniza.
Na sexta-feira passada, 16, ela foi barrada no 25º Seminário Ética na Gestão, promovido pela Comissão de Ética Pública da Presidência da República. A integrante da Corte foi impedida de entrar mesmo após apresentar a carteira funcional de ministra.
Advogada com atuação no movimento de mulheres negras, Vera Lúcia havia sido convidada a palestrar sobre prevenção e enfrentamento ao assédio e a discriminação na gestão pública. "Houve uma recusa de me ver como uma pessoa digna", chegou a dizer a ministra, que também é vice-diretora da Escola Judiciária Eleitoral.
Nessa terça-feira, 20, a presidente do TSE, ministra Carmem Lúcia denunciou a situação destacando que racismo é crime. "É inconstitucional, imoral, injusto qualquer tipo de destratamento em razão de qualquer critério que não seja a dignidade da pessoa humana."
Em nota, o Ministério da Igualdade Racial destacou que essa "é uma das manifestações mais comuns e perversas do racismo, que impõe tratamentos desiguais baseados na cor da pele. Racismo é crime".
Gloria Maria e a Lei Afonso Arinos
Gloria Maria foi a primeira pessoa a usar a Lei Afonso Arino contra o racismo
Crédito: Reprodução/TV Globo
O episódio é mais um de tantos que marcam a história dos negros no País.
A jornalista Gloria Maria viveu um momento emblemático em junho de 1980, quando foi impedida de visitar um amigo no Rio Othon Palace Hotel, localizado na tão famosa av. Atlântica, na praia de Copacabana.
A experiência foi relatada pela própria Gloria no Jornal Hoje:
“Fui barrada não por ser jornalista ou outro motivo qualquer, fui barrada por ser negra. Um dos gerentes disse que negra aqui não podia entrar”, contou. “Eu mostrei documentos, tentei explicar, dizia que era jornalista e queria simplesmente visitar um amigo. Ele disse que não era possível, que negra não entrava. Tentei registrar uma ficha de hóspede do hotel, ele também não permitiu.”
O relato de Gloria é forte e carrega uma carga emocional que não é só dela, mas é vivida e pode ser sentida por essa população até hoje.
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