Sara Oliveira é repórter especial de Cidades do jornal O Povo há 10 anos, com mais de 15 anos de experiência na editoria de Cotidiano/Cidades nos cargos de repórter e editora. Pós-graduada em assessoria de comunicação, estudante de Pedagogia e interessadíssima em temas relacionados a políticas públicas. Uma mulher de 40 anos que teve a experiência de viver em Londres por dois anos, se tornou mãe do Léo (8) e do Cadu (5), e segue apaixonada por praia e pelas descobertas da vida materna e feminina em meio à tanta desigualdade.
Infantilizar e desdenhar da força política de uma mulher, na sociedade machista em que vivemos, é sim misoginia
“Não se deixe levar”, “Não se preste a esse papel”, “Menino de recado”, “Mulher guerreira, batalhadora”. Alguma mulher tem alguma dúvida de que essas falas, juntas ou separadas, denotam avaliação de insuficiência, incapacidade e amadorismo ao mesmo passo que destaca contextos de guerra e superação? Tudo junto e misturado.
E nessa troca de tiros, colocar a mulher como infantil, influenciável, incorporadora de papéis e finalizar com o “guerreira e batalhadora” é deixar bem claro como a misoginia é cometida de forma corriqueira, naturalizada por muitos e incorporada nos discursos que deveriam dizer muito mais.
É extremamente cansativo precisar reafirmar ser capaz de escolher, de se posicionar, de falar o que quer e como quer, de fazer avaliações e de apoiar o candidato que quiser, quando e como quiser. Ou não é exatamente assim que acontece desde sempre no mundo político?
A sociedade, os homens, principalmente aqueles que ocupam a grande maioria das cadeiras do Executivo, Judiciário e Legislativo, precisam reconhecer, em discurso e atitude, a competência de quem alcançou sucesso não por ser mulher, mas apesar de ser uma mulher. Entre as tantas violências sofridas, existe aquela nem tão velada assim, em que se diminui a capacidade intelectual da mulher e sua representação nos espaços de decisão. Foi o que vimos e o que, infelizmente, ainda se repete.
A prova de que, não, nenhum homem entenderá as falas dos vereadores como uma mulher, continua nas aspas protagonizadas pelos parlamentares sobre Jade e, mais especificamente, sobre a ex-prefeita Luizianne Lins (PT). “Será que ela (Jade) vai defender o nome de Luizianne por ser mulher guerreira, por ser batalhadora?", disse um dos vereadores.
O que talvez ele não saiba - assim como muitos outros homens - é que esses adjetivos só retratam o cansaço ao qual as mulheres são expostas só por serem mulheres. Não é mérito ser guerreira, isso nem deveria ser mais repetido, porque até as crianças já sabem que, na verdade, a guerra é outra. Destaco a resposta de um dos vereadores acusados de misoginia, ouvida ao vivo pela repórter de Política do O POVO, Júlia Duarte.
"Sempre que venho à tribuna para criticar e elogiar é ‘o’ ou ‘a’ gestora, independente de gênero. Jamais, sou casado há quase 30 anos, o amor da minha vida é minha filha”. O outro deixou claro que metade dos assessores é mulher. Deixo aqui um importante questionamento, para homens e mulheres: alguém acha que ele usar pronomes da forma correta, amar a própria filha e ter funcionárias mulheres, realmente o faz não ter cometido misoginia?
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