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Julieta presente! Brasil é o segundo país mais perigoso para mulheres viajarem
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Sara Oliveira é repórter especial de Cidades do jornal O Povo há 10 anos, com mais de 15 anos de experiência na editoria de Cotidiano/Cidades nos cargos de repórter e editora. Pós-graduada em assessoria de comunicação, estudante de Pedagogia e interessadíssima em temas relacionados a políticas públicas. Uma mulher de 40 anos que teve a experiência de viver em Londres por dois anos, se tornou mãe do Léo (8) e do Cadu (5), e segue apaixonada por praia e pelas descobertas da vida materna e feminina em meio à tanta desigualdade.

Sara Oliveira cotidiano

Julieta presente! Brasil é o segundo país mais perigoso para mulheres viajarem

Fiz duas viagens solo no último ano e o medo sempre foi o de ser morta e torturada, assim como Julieta
FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL 12-01-2024: Fotos: Homenagem a artista Julieta Hernández. (Foto: Yuri Allen/Especial para O Povo) (Foto: Yuri Allen/Especial para O Povo)
Foto: Yuri Allen/Especial para O Povo FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL 12-01-2024: Fotos: Homenagem a artista Julieta Hernández. (Foto: Yuri Allen/Especial para O Povo)


Viajar sem a presença masculina, no Brasil, representa perigo constante. Conheci um pouco da história da Julieta Ines Hernández Martinez, a “Palhaça Jujuba”, uma artista de 38 anos que escolheu viajar sozinha e acabou sendo morta por um casal no Amazonas, quando estava fazendo o caminho de volta para casa casa, na Venezuela. De acordo com a Travel Industry Association of America (TIA), o Brasil é o segundo país mais perigoso para mulheres viajarem sozinhas, perdendo apenas para a África do Sul.

No mesmo dia em que soube do que havia acontecido com ela, recebi de uma grande amiga o vídeo de uma roda punk feminina junto a uma narrativa importante sobre o "não parar" das mulheres. Falava sobre a força que faz a nossa roda girar em energia, movimento e desobediência. Pedia segurança pra essa "roda girar em qualquer lugar".

Ter segurança para fazer o que se quer e ir onde desejar não é uma realidade para as mulheres. Digo isso depois de ter feito, no último ano, duas viagens: uma solo e outra com meus dois filhos, de 5 e 8 anos. Digo isso depois de ver o caso de Julieta e lembrar que, por tantas vezes, nessas viagens, eu tive medo de ser morta e torturada. Assim como ela.

Pior do que isso é ter medo e ainda se achar culpada, mesmo não estando fazendo nada de errado, como ponderou a mulher de 37 anos atacada em um sítio no município de Cruz, no Ceará. Um homem envenenou os cachorros que protegiam a propriedade, invadiu a casa e a violentou. Pior ainda são as pessoas que justificam dizendo "mas ela não deveria viajar sozinha".

Ela deveria. Nós, mulheres, devemos fazer tudo o que quisermos. Planeja, compartilha, previne, desconfia, se protege. Sempre. O tempo todo. É cansativo demais. Passar uns dias na praia se torna, além de uma experiência única na vida, uma missão sobre os riscos aos quais um homem não estaria exposto.

Um exemplo muito claro disso: sempre que viajo com as crianças ou sozinha, me certifico muito bem que as portas e janelas estejam trancadas à noite. Coloco até barreiras físicas e já penso estratégias que me dêem comunicação externa fácil. Fico alerta mesmo. Isso já acontecia antes de eu decidir fazer viagens solo, mas se intensificou. É o medo de ser invadida, sequestrada, violentada.

Já viajei com muitos homens, famílias inteiras, e nunca vi nenhum deles se preocupar em dormir em uma rede na varanda de uma casa desconhecida. É costume, na verdade, os homens dormirem nas varandas e as mulheres dentro dos quartos. Julieta estava exatamente na rede de uma pousada quando foi atacada.

Não deveríamos estar mais expostas só por sermos mulheres. Não são as mulheres que não devem fazer, ir, ser, ou estar. São os perigos que precisam ser identificados também como desiguais e então soluções passem a ser realidade. Que haja mais segurança para o direito de ir e vir, que é de qualquer indivíduo, independente do gênero. 

Julieta era uma multiartista. Na última sexta-feira, ciclistas e artistas de 140 países a homenagearam. Ela estava em uma pousada, no Amazonas, quando foi atacada pelo casal proprietário do local. Venezuelana, estava no Brasil há oito anos, se apresentando enquanto pedalava pelo País desde 2019. Quando foi morta, estava voltando para a casa da mãe, na Venezuela. Suas viagens eram acompanhadas pelos membros grupo Pé Vermêi, que estranharam quando seu celular ficou sem sinal.

A família de Julieta recebe apoio financeiro para lidar com o impacto dessa tragédia por meio da conta PayPal (sophialarouge@gmail.com) ou pelo Pix: contato@circodisoladies.com.br

Alguns sites que conectam viajantes, auxiliam turista e dão dicas sobre viajar solo!

SisterWave

Womantrip

Elasviajamsozinhas

 

*Travel Industry Association of America (TIA) é uma associação sem fins lucrativos com sede em Washington DC que representa e defende os interesses e preocupações comuns de todos os componentes da indústria de viagens dos EUA. A TIA foi criada em 1941 para aumentar a consciência pública

Foto do Sara Oliveira

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