Sara Oliveira é repórter especial de Cidades do jornal O Povo há 10 anos, com mais de 15 anos de experiência na editoria de Cotidiano/Cidades nos cargos de repórter e editora. Pós-graduada em assessoria de comunicação, estudante de Pedagogia e interessadíssima em temas relacionados a políticas públicas. Uma mulher de 40 anos que teve a experiência de viver em Londres por dois anos, se tornou mãe do Léo (8) e do Cadu (5), e segue apaixonada por praia e pelas descobertas da vida materna e feminina em meio à tanta desigualdade.
A maternidade é embalada no enredo da perfeição, tão mentirosa, porém, ainda tão almejada. Hoje, nem as maternidades reais traduzem de verdade a realidade.
Quando a gente se torna mãe, um mundo de possibilidades boas e ruins se torna realidade junto ao bebê cheirosinho mais importante que tudo. A demanda é por tudo perfeito, pois ali surge um herdeiro, uma história, novos passos, outras escolhas. A maternidade é embalada no enredo da perfeição, tão mentirosa, porém, ainda tão almejada. Hoje, nem as maternidades reais traduzem de verdade a realidade.
Aniversários meteóricos, com passeio de carrinho entre as atrações temáticas, brigas divertidas sobre quem vai trocar o bebê, um pai e uma mãe que são essencialmente funcionários da função “pai e mãe” da instituição “tem de ser assim”. E não que eles não possam viver tudo isso, o que me encasqueta é o por que queremos comprar tudo isso. O título “vida real” não deveria ser comprado assim tão facilmente, principalmente pelas mães.
Quando meu segundo filho nasceu, a receita de uma vitamina de mamão, banana e maçã me chamou atenção em um perfil de Instagram. Uma mãe de três filhos - que teve o quarto depois -, que morava em uma casa distante, na mata, acordando com os passarinhos e plantando horta, era a protagonista da receita. Cheguei pela vitamina - eu queria desmamar a criança de 1,9 ano no meio da pandemia de Covid -19 - e acabei ficando no perfil pela vida que eu queria ter.
A mistura de frutas, feita com leite de castanha, deu certo no processo, depois de eu desistir de tudo porque havia dado o mingau quente demais uma vez. Mas enfim, eu continuei a segui-la, consumia indicações sobre a importância de manter-se serena consigo mesma, de estimular o contato com a natureza, a alimentação saudável e a livre vivência. Tudo que eu, uma mãe repórter de Cidades ligada no 220 wolts, queria conseguir viver minimamente.
Mas, principalmente, o pouco uso de telas. Brinquedos de madeira rodeavam as crianças, que brincavam, enquanto a mãe explicava os benefícios daquela atividade. Tudo filmado. Sem interrupções de latido de cachorro, barulho de carro, campanhia, televisão. Ah, o marido, dedicado a uma vida também familiar, brincava com as crianças após o jantar em frente à lareira.
Quando eu achei que aquela era uma maternidade real? Quando a quis? Quando se tornou influência para mim? Eu então a deixei de seguir e não sigo nem a Viih Tube, que tem 33 milhões de seguidores.
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