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Rebeca e Simone: ser rival e saber reconhecer e admirar outra mulher
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Sara Oliveira é repórter especial de Cidades do jornal O Povo há 10 anos, com mais de 15 anos de experiência na editoria de Cotidiano/Cidades nos cargos de repórter e editora. Pós-graduada em assessoria de comunicação, estudante de Pedagogia e interessadíssima em temas relacionados a políticas públicas. Uma mulher de 40 anos que teve a experiência de viver em Londres por dois anos, se tornou mãe do Léo (8) e do Cadu (5), e segue apaixonada por praia e pelas descobertas da vida materna e feminina em meio à tanta desigualdade.

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Rebeca e Simone: ser rival e saber reconhecer e admirar outra mulher

Biles não precisou cair para Rebeca ganhar, e isso, na lógica da ginástica artística ou não, faz muito sentido entre as mulheres
Rebeca Andrade é reverenciada pelas ginastas dos EUA Simone Biles (prata) e Jordan Chiles (bronze) ao receber medalha de ouro nas Olimpíadas 2024, em Paris  (Foto: GABRIEL BOUYS / AFP)
Foto: GABRIEL BOUYS / AFP Rebeca Andrade é reverenciada pelas ginastas dos EUA Simone Biles (prata) e Jordan Chiles (bronze) ao receber medalha de ouro nas Olimpíadas 2024, em Paris

A cena me pegou em meio à euforia que foi ver Rebeca Andrade, a maior medalhista do Brasil, ser ouro. No pódio, além da imagem forte de uma bandeira do Brasil no topo, em meio a duas flâmulas estadunidenses mais baixas, uma das mais importantes cenas dos tempos atuais: mulheres que, embora rivais, sabem o que é reconhecer, admirar e reverenciar outra mulher. Cada dia mais, seja no esporte, no escritório ou na bancada da lanchonete.

Desde o início das Olimpíadas 2024, na França, o duelo entre Rebeca e Simone Biles era o frisson entre comentaristas esportivos ou não. Quem não desejou, quase não desejando mesmo, que a americana desse aquela topadinha? As provas aconteceram, uma ganhou, a outra não, depois inverteu, medalhas, abraços, olhares, torcidas. Biles não precisou cair para Rebeca ganhar, e isso, na lógica da ginástica artística ou não, faz muito sentido entre as mulheres.

Quando a prova de solo terminou, chamei a atenção dos meus filhos, dois meninos, de 5 e 8 anos, para o que estava acontecendo: um pódio de três mulheres negras - e claro, também ressaltei as posições das bandeiras. E comecei a falar, sem tanta coesão, o quanto aquilo significava. “Uma mulher, meu filho, é a maior medalhista do Brasil. Uma mulher preta, filha de uma mulher pobre”.

Aí apareceu Rosa Santos, mãe da Rebeca, chorando pela vitória da filha. Uma mãe que criou oito filhos, sete deles sozinha, trabalhando como empregada doméstica. Um detalhe me chamou atenção: ela não usava brincos, vestia uma camiseta e o cabelo estava amarrado. Claramente, a imagem de uma mulher trabalhadora, batalhadora, que nutriu e compartilhou, sem dúvidas, valores que vão além do que estamos acostumados a valorizar na sociedade.

Voltando à cena do pódio, fica ali o retrato de que mulheres se reconhecem no seu melhor, nas suas semelhanças de conquistas e dificuldades. Só uma mulher sabe o que outra mulher vive, só uma mulher preta sabe o que outra mulher preta enfrenta, só uma estrela da ginástica mundial sabe o que outra estrela da ginástica mundial precisa conquistar. Foi assim que a medalha de bronze, Jordan Chiles, olhou para Biles, sinalizou um “vamo lá” e ambas se agacharam e protagonizaram uma das cenas históricas do esporte e da vida.

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