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Livre para driblar
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Foto de Tales de Sá Cavalcante
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Reitor do FB Uni, diretor-geral da Organização Educacional Farias Brito e presidente da Academia Cearense de Letras. Além dessa, é membro de cinco academias. Entre as suas produções literárias, destacam-se os textos mensalmente publicados no O POVO e as coletâneas de seus artigos, discursos, opiniões e entrevistas

Livre para driblar

Em 1975, o Jornal do Brasil revelou que, por ser muito visado, Chico Buarque usara o pseudônimo Julinho da Adelaide para driblar a censura. No passado, muitos jornalistas, artistas e escritores também usaram o mesmo artifício
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Capa de álbum de Chico Buarque viraliza como meme nas redes sociais (Foto: Reprodução)
Foto: Reprodução Capa de álbum de Chico Buarque viraliza como meme nas redes sociais

De 1964 até meados da década de 1980, havia censura, e as letras das músicas eram vetadas se consideradas "subversivas", "perigosas" ou por ferirem a "moral" e os "bons costumes". "Acorda Amor", "Milagre Brasileiro" e "Jorge Maravilha", com autoria de Julinho da Adelaide, foram aprovadas, tocadas e cantadas. Um de seus trechos era: "E nada como um tempo após um contratempo / Pro meu coração / E não vale a pena ficar, apenas ficar / Chorando, resmungando / Até quando, não, não / [...] Você não gosta de mim, / Mas sua filha gosta".

O Pasquim, um divertido e inteligente jornal da época, "fabricou" uma entrevista com Julinho da Adelaide, que declarou "ser apolítico", mas suas músicas eram, exatamente, sátiras políticas. Em 1975, o Jornal do Brasil revelou que, por ser muito visado, Chico Buarque usara o pseudônimo Julinho da Adelaide para driblar a censura. No passado, muitos jornalistas, artistas e escritores também usaram. Sérgio Porto (criador do Febeapá, Festival de Besteira que Assola o País) era Stanislaw Ponte Preta.

Júlio Cesar de Melo foi Malba Tahan até em documentos oficiais. Dom Pedro I era Piolho Viajante. Clarice Lispector já foi Tereza Quadros. Apparício Torelly era o Barão de Itararé. Nelson Rodrigues assinou como Suzana Flag; Machado de Assis, o

Bruxo do Cosme Velho, como Dr. Semana. Marilyn Monroe era Norma Jeane Mortenson. Stefani Joanne Angelina Germanotta é Lady Gaga. Farrokh Bulsara era Freddie Mercury. Agenor de Miranda Araújo Neto era Cazuza. Voltaire era François-Marie Arouet. Lênin era na realidade Vladimir Ilyich, e Stálin ("homem de ferro", em português) era o pseudônimo de Iosif Dzhugashvili.

Meu pai, Ari de Sá Cavalcante, registrou-me como Ivo. Saiu do cartório, foi a uma livraria e um livro de Matemática levou-o à lembrança de Tales, seu pseudônimo no jornal O Estado, onde criou frases memoráveis.

No dia seguinte, foi ao cartório e trocou Ivo por Tales, que acoplado a Montano, pseudônimo de meu bisavô materno, formou o nome composto Tales Montano. Sem a passagem pela livraria, provavelmente o autor desta crônica seria Ivo Brasil de Sá Cavalcante.

 

Foto do Tales de Sá Cavalcante

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